A Capitolina 5, maio 2014 | Page 9

Escrituras 8

A maior marinha do mundo. Uma das melhores condições de vida da Europa. Mobilidade social. Revolução Industrial. Império sólido. Comércio interno e externo prósperos. Expectativa de vida crescente. Mudanças em questões humanitárias. Não foi por acaso que os 8.8 milhões de ingleses do final do século 18 se mostravam tão orgu- lhosos em relação a seu país já em meados de 1759 (MCDOWALL, 2000, p. 109).

Pela primeira vez na história da Inglaterra, foi no século 18 que o Parlamento – composto por ministros que representavam uma parte ínfima da população – deteve o real poder de decisão no país. Não foi a primeira vez, no entanto, que Inglaterra e Fran- ça entraram em uma disputa armada. Em 1756, oito anos após o fim do último conflito, os dois países brigaram mais uma vez por postos comerciais. Surpreendentemen te, foi a atitude pacífica do rei George III – que assumiu o trono em 1760 – que realmente bene- ficiou os lucros mercantis da Inglaterra: George III se colocou contra o desperdício de lutar uma guerra e fez as pazes com a França, focando todos os seus esforços no alar- gamento do lucro inglês. Em território nacional, a receita da Revolução Industrial estava à mão: bastou juntar capital, força de trabalho, demanda por novos produtos, reformulações políticas e facilidade de transporte para que as antigas indústrias rurais se transformassem em poderosas fábricas onde o braço humano foi substituído pelos fios das máquinas. Efei- tos sociais? Sim, vários. Desem prego, insatisfação, miséria, poluição, e a organização de trabalhadores abandonados em pequenas associações. Mais tarde, rebeliões armadas e, com elas, o medo se instalou no Parlamento: será que a popu lação inglesa iria se revol- tar como fizeram na França? Havia quatro principais grupos nas cidades da Inglaterra setecen tista: os mercadores poderosos, os mercadores não tão bem-sucedidos, os artesãos, e um número enorme de pessoas que não tinham habilidades espe cíficas e que vagavam pelas ruas realizando trabalhos menores. Em 1700, a Inglaterra ainda era um país de pequenas vilas. Tais vilas já eram cidades formadas no fim do século – o que foi uma mudança extremamente rápida para os padrões da época. Todas as cidades tinham mau cheiro. Todas funcionavam como verdadeiros centros dissemina dores de doenças. Nenhuma tinha sistema sanitário ou ruas pavimentadas ou iluminação adequada. Foi apenas na segunda metade do século 18 que Londres recebeu seu primeiro sistema de iluminação. Depois de 1760, algumas cidades pediram ao Parlamento que viabilizasse a cobrança de taxas populares para que ruas fossem pavimentadas. A classe média tornou-se força influente na política, na economia e na cultura. Ela não só ocupava lugares no Parlamento e contribuía para o crescimento da nação, como também foi a maior representante e difusora dos ideais iluministas. Um exemplo interessante é fornecido por David McDowall em An Illustrated History of Britain: diz- se que foi no século 18 que, pela primeira vez, as noções de afeto e carinho contamina- ram a vida cotidiana das famílias inglesas de classe média. Esse fenômeno estaria liga- do à concepção de que todo ser vivo é um corpo individual e que, portanto, merece cer- tos cuidados (MCDOWALL, 2000,pp. 119-20). Ora, essa ideia não alimentou apenas uma nova dinâmica familiar, mas também uma nova percepção da classe média em relação a si própria. O indi vidualismo gerou o desejo pelo privado, e isso mudou várias caracte- rísticas da sociedade inglesa setecentista: toda a força de trabalho, a dinâmica das cida- des e os aconte cimentos culturais visavam celebrar o homem e suas qualidades. Vale ressaltar que, para as classes mais pobres, o individualismo não era uma realidade. Na verdade, a distância entre as classes mais prósperas e as mais miseráveis era exorbitante em vários outros aspectos. Um movimento religioso inédito, o Meto- dismo, apareceu no século 18 oferecendo esperança e afeto para o novo proletariado – tanto ao indivíduo que trabalhava agora ao lado de máquinas, quanto ao que perdeu seu ofício por causa delas. Mesmo aqueles que não podiam votar por não atingirem o patamar econômico necessário, aqueles que administravam comércios menores, e até aqueles que se encon- travam em condições piores, mesmo esses se interessavam pela vida política de seu país. Entre 1750 e 1770, a publicação de jornais aumentou consideravelmente. A pavi- mentação de estradas possibilitava a circulação de jornais e livros com uma velocidade nunca antes vista – podia-se ir de Londres a Liverpool em dois dias. A leitura de jornais nutriu discussões políticas populares. Clubes de conversa se reuniam em diversas cida- des para discutir questões nacionais. O Parlamento passou a permitir que repórteres presenciassem sessões e divulgassem imediatamente os assuntos abordados. A Ingla- terra do século 18 viu o surgimento da opinião pública.

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