A Capitolina 5, maio 2014 | Page 25

Mini Contos 24

sussurrando:

Pronta?

Esperei deveras por esse momento, sabes disso. Mas tenho medo.

Temos o que mais importa nesta vida. E posso dar-te tudo que desejas...

Não é por ti. Sabes que te amo. É por...

Esta casa. Tua mãe. O passado...

Olho-o com ternura. Ele desvia o olhar, pensativo. Levanta-se.

Falarei com ela.

Não acreditas em mim quando te digo?

Então, quero me arriscar.

Por Deus, eu não poderia suportar as consequências.

Já me decidi. Não há volta.

A porta do quarto se abre com estrondo, e mamãe entra, enfurecida. Frederico posta-se à minha frente, defendendo-me, mas na verdade ela o quer. Agarra-o pelo pescoço e o prensa junto à parede. Tento ajudá-lo, mas sou empurrada para longe. Frederico se debate, já com os olhos esbugalhados. Tento nova investida, aos berros, quando sinto um baque seco em minha cabeça, e o escuro...

Pela pouca luminosidade e cheiro de mofo, estou no porão. Minha cabeça lateja. Setembrina me observa enquanto tento, em vão, levantar; estou amarrada pelos pulsos e tornozelos. Ela se aproxima com sua bengala, se agacha e fala melancolicamente:

Podias ter um futuro tão brilhante, menina... Ao menos terás companhia...

Começo a chorar, e então ela aponta à minha esquerda. Amarrado como eu, amordaçado e vivo...

Pai...