A Capitolina 4, abril 2014 | Page 16

Abílio Pacheco

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Na sua visão, o que o leitor leva em consideração durante sua leitura?

Os leitores, desde que começam a ler, naturalmente adquirem preferências por determinados tipos de livros (poesia, ficção, contos, esotéricos...)?

Acho que tirando o leitor profissional (crítico literário, professor de literatura...) existem o leitor de alta literatura, o leitor de best seller e o leitor jovem/juvenil. Cada um deles leva em consideração aspetos diferentes, embora todos sintam o desejo inevitável de saber da/s vida/s de outra/s pessoa/s. A empatia e a curiosidade movem todos os leitores de narrativa. O leitor de alta literatura procura uma narrativa que tenha um trabalho elaborado de linguagem tanto num nível micro textual quando macro textual, as metáforas elaboradas, as frases depuradas num nível e as estratégias de funcionalidade, necessidade e encadeamentos. O leitor de best seller deseja romances que sejam bem da hora, quase roman fast fashion, que sabe o que está “bombando” mas não se agrada de dizer que leu algum top 10 de 15 anos atrás. Este leitor procura romances com narrativas que enfatizem o enredo em detrimento da reflexão, também não está em busca de obras com depuração estética. O que não singifica dizer que seja complacente com o texto mau escrito. O leitor jovem/juvenil não está muito distante do leitor de best-sellers, mas este tem preferência por narrativa cujos protagonistas estejam na mesma faixa etária que ele.

Sim.

E creio que isso vale para todos os tipos de leitores que citei, muito embora ache que o leitor de alta literatura seja mais flexível a variação, enquanto o leitor de bestseller nem a presença de um livro de uma preferência diversa da sua na lista de mais vendidos pode fazê-lo ‘guinar’ um pouco. Não creio que genericamente os leitores de 50 tons sejam leitores de Leminski.