A Capitolina 4, abril 2014 | Page 15

uma vez Balaio de Três e onde quer que pudesse extravasar o universo que transborda da alma do contador.

Foi por isso que iniciei essa nossa conversa resgatando retalhos de memórias e com minha história real confirmando a importância e a força da literatura infantil na formação do indivíduo.

Hoje, com essa consciência do poder das histórias, no meu trabalho em sala de aula e como contadora busco emprestar a minha voz e meu corpo ao texto sem sufocar o ouvinte. Para que cada um possa fazer sua leitura, juntando os seus retalhos para alinhavar a construção de sua própria história.

O trabalho do professor contador de histórias é algo desafiador, uma vez que ele é um instrumento de transmissão das memórias universais nas quais estão contidas experiências de outros tempos e outras realidades, mas que falam de sentimentos e de necessidades que todo ser humano tem, em qualquer tempo ou lugar.

Penso que por essa razão, uma questão importante abordada no artigo diz respeito ao espaço que os contos tem no contexto escolar, não aquele olhar técnico, com vistas à formação pedagógica, mas aquele que dá espaço para o exercício da imaginação.

Os contadores costumam convidar o ouvinte a viajar nas asas das histórias e isso, de fato, acontece a partir do momento em que ele estiver em estado de encantamento.

Creio que o trabalho de contadores, como encantadores de palavras possibilita o exercício da imaginação e dessa forma desempenha uma função educativa, uma vez que as imagens internas, nossas bases para construção de novos conhecimentos são acionadas e nessas conexões entre o universo interno do ser humano e os estímulos contidos nos contos é que surgem possibilidades de transformações e crescimento.

Portanto, o profissional que transita por esse universo mágico, precisa ter a consciência da dimensão do seu trabalho na formação humana e da importância dos contos nesse processo. Por meio do “maravilhoso”, do jogo do faz de conta acontece o diálogo entre o real e o imaginário e dessa forma se abrem espaços para construção do conhecimento de si e do mundo.

No meu percurso como educadora e contadora de histórias é comum ouvir comentários sobre a criatividade e forma de cativar os ouvintes na hora do conto. Refletindo sobre isso retomo o início da minha história e arremato os meus bordados com a linha da gratidão à vida pelas histórias e poemas que ouvi na infância e que ampliaram meus horizontes.

Colcha de retalhos no chão, um livro nas mãos ou uma história na cabeça... que possamos, educadores contadores de histórias tocar a alma de cada criança ou adulto que nos ouve, que a magia os faça descobrir o universo que existe dentro de cada um de nós.

Detratores ou Defensores 14

Elaine Chiacherini tem formação em Pedagogia, com pós graduação em psicopedagogia e arte terapia. É contadora de histórias, no grupo "Era uma vez balaio de três" . Professora na Educação Infantil na Rede Pública Municipal de Salto e também em uma Rede particular. Poeta, mãe, apaixonada por literatura e música.