A Capitolina 2, fevereiro 2014 | Page 19

credito que seja engraçado que o único resenhista masculino desta publicação seja a pessoa que vai resenhar um livro que, para muitos, seria considerado como uma peça literária que tem o público-alvo focado na parcela feminina da população. Mesmo assim, devo afirmar que esta visão parte de uma análise superficial do livro e que tantos homens quanto mulheres podem apreciar o gênero literário de Colleen Houck.

A Maldição do Tigre (e seus livros subseqüentes) contam a história de Kelsey Heyes, uma típica adolescente que crer não ter nada de especial assim como praticamente toda protagonista feminina e, ouso dizer, praticamente todo adolescente confuso com sua própria identidade na vida real. Kelsey junta-se a uma trupe circense para conseguir ganhar algum dinheiro nas férias como tratadora de um tigre e outros animais desta trupe. Entretanto, sua vida muda drasticamente quando um milionário indiano compra o tigre e requisita a Kelsey que continue tratando do animal na Índia - o que é, na verdade, um subterfúgio para revelar a ela que ele sempre foi um homem afetado por uma maldição que apenas ela pode ajudá-lo a quebrar.

A Maldição do Tigre tem um aspecto de identificação muito forte, típico dos livros ‘escapistas’ de nossa geração: a garota, que se considera sem-graça, é jogada em uma vida onde passa a conhecer lugares novos, usufruir de riquezas e, por fim, conhece o homem perfeito (para depois se envolver em um triângulo romântico com outro homem que também é perfeito). Desta forma, uma pergunta óbvia deve ser feita - de que maneira “A Maldição do Tigre” é diferente da saga “Crepúsculo”? A resposta se encontra no desenvolvimento dos personagens. Kelsey, ao invés de ser uma Bella passiva que não consegue tomar um passo por si mesma, é uma mulher decidida e que não se mantém apática em relação à situação. Ao invés de esperar por suas oportunidades ocorrerem, ela cria o seu próprio destino - e isso faz toda a diferença do mundo. Ren, ao invés de ser um Edward frio e distante, apresenta toda a cadência de cores presentes no ser humano, variando da raiva aparente ao desespero contido, da alegria expressa à tristeza velada. Kishan, ao invés de ser um Jacob que simplesmente é imerso na narrativa para configurar o triângulo amoroso, apresenta o interessante paradigma de abandonar seu lado de tigre desenvolvido por estar séculos solitário em uma floresta para redescobrir a ação de ser um homem e apegar-se a outras pessoas.

Em toda a minha experiência com o livro, admito que chorei por identificação também em diversos trechos. A Maldição do Tigre é um livro que, apesar de utilizar da dimensão dos clichês, não se atém a eles - e, por isso, é um livro tangível e que pode ser uma experiência fascinante para todas as pessoas.

A

A Maldição do Tigre

Lucas Lacerda

Resenhando 18

HOUCK, Colleen. 'A Maldição do Tigre". Editora Arqueiro. 2011. 352 páginas.

Tradução de Raquel Zampil