A Capitolina 1, janeiro 2014 | Page 17

empre soube que quando eu iniciasse a leitura deste livro, tiraria dele aprendizados e visões até então não experimentadas, principalmente porque se trata de uma narrativa de um mundo oriental que eu desconhecia, onde o grandioso escritor alemão Hermann Hesse narra a vida de Sidarta, um jovem indiano em busca da sabedoria, da paz e da serena liberdade espiritual.

E foi no sacolejar de um ônibus de viagem, acompanhada das constelações e de uma lua crescente inspiradora, à oeste de nossas terras tupiniquins, que desfrutei dessa leitura tão agradável.

São 121 páginas repleta de revelações transcendentais.

Membro de uma casta sacerdotal, o filho de brâmane, criado desde pequeno nos costumes hindus para tornar-se um sábio em seu vilarejo, Sidarta, apesar da pouca idade possuía uma inteligência lúcida e conhecimento ímpar acerca de sua cultura, admirado por todos, mas de uma inquietude que despertaria seu desejo de desbravar o mundo à sua volta, seja nas experiências físicas, seja nas espirituais; juntamente com seu melhor amigo Govinda, que já nas primeiras páginas decidem seguir caminho fora dos costumes e rituais brâmanes, a contragosto de seus pais.

Ambos juntam-se então aos ascetas, peregrinos esqueléticos que viajam a pé e praticam o pensar, o esperar e o jejuar; alimentam-se somente uma vez por dia, vivem de esmolas, seguem em grupo mesmo sendo cada um individualmente dono de seus próprios pensamentos e atos, aprendem e praticam os feitiços dos samanas, e durante o tempo de caminhada, Sidarta e Govinda, entre sábias constatações e seu desassossego, decidem por

si, quando avistam discípulos de Gotama, tomar os conhecimentos do augusto Buda.

Govinda identifica-se aos Gotamas desde o princípio, mas Sidarta, cheio de indagações e dúvidas quanto a doutrina dos budistas, separa-se do amigo e em seguida vem o seu despertar, e o desapego à tudo o que vinha buscando até então; esta incessante busca findou-se em experiências mais mundanas que espirituais, quando em sua caminhada solitária, depara-se com a bela Kamala, que ensinou-lhe as artes do amar.

Kamala, detida em seu mundo material, entre gracejos de seus amantes, riquezas e belas roupas, introduziu Sidarta ao mundo dos comerciantes, dos homens tolos, dos sansara, dos que vivem com o propósito de adquirir bens, súditos, status social, riquezas, e assim Sidarta permaneceu durante longos anos até atingir a idade madura e ter por si que nada daquilo trouxe-lhe, de fato, a felicidade e a paz na alma, pelo contrário, deturpou tudo aquilo que trazia em seu interior.

O desapego do que havia conquistado veio a ser seu maior desafio, mas nada para Sidarta era o bastante, e após abrir mão de tudo novamente, foi na beira de um rio, ao lado do balseiro e ermitão Vasudeva, que Sidarta enfim encontrou a paz, o seu lugar.

Encontros e reencontros trazem nos últimos capítulos do livro, ensinamentos e vivências um tanto quanto sofríveis ao nosso sábio e filósofo Sidarta, juntamente com as frases e passagens mais memoráveis, dignas da mente brilhante de Hesse que viveu durante anos na Índia aprendendo sobre a cultura deste precioso povo.

S

A Busca Pela Serenidade de Sidarta

Eni Miranda

Resenhando 16

HESSE, Herman. "Sidarta". 12ª edição. Civilização Brasileira. 1974. 121 páginas.