A Capitolina 1, janeiro 2014 | Page 16

Rodrigo Zafra

Primeiro, as palavras. Depois, todo o resto.

Em geral, as coisas funcionam assim pra mim; a vida começa e termina em palavras.

Ações, gestos, emoções, sentimentos, tudo pode, ao final, ser resumido em palavras.

Escrevo por necessidade; (sobre)vivo por teimosia.

A vida é cíclica, chata, uma angústia sem fim. As resoluções - quando acontecem -, rápidas ou demoradas, por vezes carecem de um porquê.

O mundo real tem fronteiras; o imaginário é infinito.

Talvez por isso tenha resolvido ter a cabeça neste, mesmo mantendo os pés em solo firme. Tenho responsabilidades de adulto, mas não renunciei à criança que um dia fui, e continuo a brincar, mas agora com palavras.

Quando meus personagens vêm e se sentam ao meu lado, contando suas estórias repletas de peripécias, preceitos morais, objetivos e consequências bem definidos, entro numa existência superiormente interessante, e a vida (real), então, parece ter seu sentido redescoberto.

Um sentido que faz parte da busca de todo ser humano - compreender sua existência, mesmo que a sociedade e seus valores imponham um invólucro único.

Viver é um ato solitário em meio ao coletivo.

Sou uma autocontradição ambulante. Por meio das palavras, tento ser o ponto de exclamação quando, na verdade, tenho mais interrogações do que consigo lembrar. Não tenho vergonha de ser lido, quando, por certo, exponho o que há de mais íntimo em mim, trazido dos recônditos da alma.

Falar que sou escritor é temerário. No máximo, um organizador de palavras - um compositor de frases amador.

E se por um lado tento decifrar o que há escondido dentro de cada um de nós, por outro serei sempre um mistério - até mesmo pra mim - revestido de palavras.

As Palavras

mini conto

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