A Capitolina 1, janeiro 2014 | Page 12

detratores ou defensores

Quem nunca sentiu curiosidade de saber como um escritor consegue expor suas ideias com tamanha engenhosidade e criatividade? A admiração diante de certos escritos nos faz pensar que é quase impossível executar o feito de escrever algo criativo. Como é que alguns autores conseguem despertar em seus leitores pensamentos como: "uau, eu gostaria de escrever bem como ele!"? Escrever, a meu ver, não é algo que possa ser feito com base em fórmulas. Não há uma forma certa de tecer as palavras, pois, um escrito que considero bom pode ser considerado ruim por outra pessoa. Ser criativo, no final das contas, é deixar que a própria mão escreva livremente aquilo que se passa na mente, sem se preocupar se a criatividade está ali... no papel (ou na tela).

Creio que o texto “Escritores criativos e devaneios” de Sigmund Freud é um ótimo demonstrativo do que penso a respeito dos motivos que nos levam a escrever e porque achamos certos escritos tão criativos. Sempre pensei que escrever fosse uma verdadeira “terapia”, o lugar para onde eu corria, quando me sentia triste ou angustiada. Digo o mesmo sobre a leitura, eu mergulho nas páginas dos livros e lá permaneço encantada com o poder que as palavras tem de me acalmar e me transportar para lugares totalmente (des)conhecidos, onde enfrento situações inusitadas “na pele” de outras pessoas: as personagens.

Há certos textos que me deixam literalmente “de boca aberta”, os quais me fazem indagar: “de onde vem tamanha criatividade?”. Refletindo sobre as minhas leituras, chego à

conclusão de que julgo criativas, aquelas com as quais de alguma forma, me identifico. Os escritos que trazem algo que eu tenha vontade de viver, vivo ou vivi, de fato, são os que me fascinam e me fazem contemplá-los dizendo: quanta criatividade! E este não consiste apenas em um pensamento meu, visto que são vários leitores admirados, fato que faz com que eu pressuponha que há algo no escritor que o torna criativo. Leio o texto de Freud e encontro um exemplo do que eu queria dizer sobre isso, a criatividade do escritor reside na sua própria condição como ser humano (o que fortalece o pensamento de que o autor não é um ser divino). Na escrita, há um ser humano que expõe a sua alma nas palavras e não tem medo de fazê-lo, este conquista os seus leitores porque faz o que os mesmos não tem coragem de fazer. Eles sonham, seus devaneios ultrapassam o limite do papel. Na escrita ele pode ser ele mesmo, pode se entregar à fantasia, pode, enfim, descansar no colo da imaginação. O leitor, por sua vez, executa o mesmo, seus próprios devaneios despertam e encontram os do autor. Mergulhamos no fantástico, improvável, louco mundo da imaginação e, sem perceber, deixamos de ser adultos centrados e limitados por regras. O escritor criativo é aquele que deixa a fantasia preenchê-lo, permite que a imaginação percorra para onde quiser.

Freud propõe que o escritor criativo se assemelha à criança. Afinal, na infância, criamos um mundo completamente nosso, quando brincamos. A criança não tem vergonha de criar mil e uma coisas que aos adultos parecem surreais. Para os pequenos, o mundo criado é algo que levam a sério, estes estabelecem até mesmo regras para a brincadeira. Quando crescemos, reprimimos a fantasia, pois acreditamos que brincadeira é apenas coisa de criança. Deixamos de permitir que a imaginação alce voos mais altos, paramos de criar coisas fantásticas, colocamos uma grande barreira diante de nossos loucos desejos. Mas existem algumas brechas... A leitura e a escrita são formas, digamos assim, aceitáveis de deixar que os devaneios extravasem. Ninguém acha muito vergonhoso o fato de que nos deliciemos com uma bela aventura épica. O escritor criativo é a criança de outrora que mergulha na fantasia e cria um mundo completamente seu e livre de todas as regras impostas pela sociedade. O leitor se identifica com isso e acaba por tornar seu tal universo.

Escrever é se encontrar, voltar a ser criança e se libertar de toda a angústia de ser adulto. Livro-me de todo sentimento ruim quando escrevo em meu diário, blog ou até mesmo neste texto (o escrevo com grande prazer!). Qualquer pessoa pode ser um escritor criativo, basta que deixe de se reprimir e imagine, sonhe, brinque. A capacidade de escrever um texto criativo se encontra no corpo-escritor apenas esperando que este a libere. Livre-se do adulto contido, estressado, angustiado e frustrado e dê vazão aos seus desejos através da escrita (não apenas da leitura). Eu continuo mergulhando em sonhos, continuo despertando a criança existente dentro de mim, continuo lendo, escrevendo, admirando e sobretudo, continuo devaneando.

Escrita, criação e devaneio

A ideia é das a palavra para quem tem o que falar! Nessa edição, Thaís Tieme Yamasaki, aluna de Letras da UNICAMP, opinou: qualquer um pode ser um escritor criativo? A resposta está aí, no texto:

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