1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 91

Não resulta do acaso que, em outubro de 1965, o novo governo fosse derrotado pelos candidatos da oposição nos estados da Guanabara (Negrão de Lima) e Minas Gerais (Israel Pinheiro), nas eleições para governador. Ainda em 1965, começam as articulações visando criar o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) como ponto de convergência das oposições. Em tal contexto, iria se expandir – nos anos 1966, 1967 até 13 de dezembro de 1968 – um movimento de opinião pública ativado pela resistência política ao governo, pelas iniciativas de intelectuais, revistas de opinião política e jornalistas, por áreas da cultura e ambientes universitários, pelo associativismo, particularmente sindical e de outros setores, animado pela recuperação das suas entidades representativas. Eram anos de crescente vida intelectual e política, cujo ponto alto foi a passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro.6 Ante essa incipiente movimentação (ampliada, no plano político, pela aproximação entre Juscelino, Jango e Lacerda, em 1966, na Frente Ampla), a ditadura impôs o Ato-5 em 13/12/68. Fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos e suspendeu direitos políticos, aumentou a perseguição aos oposicionistas, espalhando a espionagem em muitas direções. Silenciou aquela ativação politico-cultural e estudantil, extremou a repressão aos grupos de esquerda, levando o pais a um tempo sombrio. Durante os anos de chumbo (1969-75), a tortura passou a ter uso sistemático nas prisões, um grande número de opositores desapareceu, os exílios aumentaram em grande proporção, se comparados aos do tempo subsequente ao golpe. Cada vez mais, o Estado brasileiro assumia feição de um Estado policial (MDB, 1974; 1975). Parecia que o governo era comandado por um ente invisível chamado “Sistema” (cf. Castelo Branco, 1969-71; 1979). 6 Zuenir Ventura registra a participação de José Wilker em recente discussão na Casa do Saber sobre a censura durante a ditadura. Wilker chamou a atenção para as várias formas de resistência “ousadas pela cultura”. O ator “eterno militante”, como o chama Zuenir, recordou a “efervescência artística que havia pelo menos antes do AI-5. Citou movimentos como o Cinema Novo, Teatro Oficina, CPC, Grupo Opinião, festivais de música” (VENTURA, 2014). O conjuntural desaparece por trás do ‘estrutural’ 89