1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 90

no imediato pós-64, quando se estruturava a resistência ao novo governo e, mais grave ainda, durante a situação dramática dos anos de chumbo. Ele ainda levava à previsão do fim da ditadura no curto termo, e não contribuía para evitar a radicalização das esquerdas, particularmente da militância jovem, ao induzir a não se ver saída que não fosse o confronto direto com a ditadura, o que teria trágicas consequências. A resistência política ao regime de 1964 As interpretações de esquemas explicativos gerais descreviam o mundo brasileiro como uma totalidade que abstraía da análise a vida nacional diversificada e dinâmica. O campo da luta contra a ditadura passava a ser visto como um terreno sem possibilidades de mobilização da política.4 Essa abstração levava a pensar a luta antiditatorial como revolução disruptiva e, usando a expressão de Pécaut, “oportunidade de uma nova ‘organização’ do poder’”, sem garantias às liberdades democráticas, em modelo oposto à democracia representativa, tida por não poucos autores como democracia burguesa e formal. Noutro campo, correntes e grupos partidários derrotados em 1964 permaneceram justamente na esfera da política, buscando se reativar e atrair contingentes atingidos pelo novo regime. Como um dos artífices dessa estratégia unitária, já em maio de 1965, a esquerda pecebista insistia em colocar as liberdades democráticas no centro da resistência à ditadura (PCB, 1965).5 Nesse campo da oposição, a partir da luta política, iria se desenvolver uma mobilização que se expandirá a outros âmbitos sociais e da cultura, como testemunha a história política do período. 4 5 88 O tempo do AI-5 foi visto como autocratização completa do sistema político brasileiro, o que punha em dúvida a própria efetividade da resistência democrática. (SANTOS, 2012, in: GUEDES, 2012). O PCB receberia influxos da vivência na longa resistência democrática no seu próprio modo de pensar. Os pecebistas tentariam redimensionar suas concepções de mudança social sob hegemonia de classe, particularmente entre 1976 e os primeiros anos 1980. 1964 – As armas da política e a ilusão armada