1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 89
dessa época: “Foi só depois de 1968 que o ‘estrutural’ se apoderou
também da esfera política. A proclamação do AI-5 influiu nisso,
porém houve dois acontecimentos intelectuais não menos importantes. O primeiro, a difusão da ‘teoria da dependência’, que não só
condensa temas esparsos como permite uma articulação estreita e
‘estrutural’ entre economia e política. A partir daí, a ditadura se
separa de suas origens: a memória da polarização de forças sob
Goulart vai se apagando e assume o aspecto da expressão política da
dependência” (Ibidem, p. 229). Pécaut aponta o outro acontecimento intelectual: “Em seguida, a descoberta de que a economia
não estava condenada à estagnação. Duas obras impedem, entretanto, que se fechem os olhos para ela. A primeira é o livro de
Cardoso e Faletto, Dependência e desenvolvimento na América
Latina, publicado em 1969. Suas últimas páginas admitem que pode
haver crescimento no contexto de um ‘desenvolvimento associado’.
A segunda é o artigo dos economistas Maria da Conceição Tavares e
José Serra, com o eloquente título: ‘Além da estagnação: uma discussão sobre o estilo de desenvolvimento recente no Brasil’” (Texto
apresentado em seminário da Unesco e da Flacso-Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais, em 1970; publicado na coletânea
América Latina: economia y politica, organizada por James Petras,
Buenos Aires, 1972). Pécaut recorda os temas do texto: a interpelação à teoria da estagnação, o crescimento acelerado desde 1968, o
papel dos setores de ponta e da incorporação tecnológica, o reconhecimento de que a integração à economia internacional não leva
necessariamente ao subdesenvolvimento (PÉCAUT, op. cit., p. 230).
A abertura analítica, “lenta, difícil e polêmica”, no dizer de
Pécaut, não supera o dogma da estagnação: “O fato de haver crescimento não constitui um ‘obstáculo’ para a leitura (