1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 82
com aquilo que ocorreu de 1961 a 1964. Em 2002, as forças que
apoiavam as propostas de mudança de vários candidatos à Presidência da República concentraram-se, no segundo turno das eleições, na candidatura Lula, propiciando a convergência das classes
e camadas populares e das camadas médias e criando condições
para significativas transformações na sociedade brasileira.
Diante dessa possibilidade, a atitude do governo Lula foi
diferente da do governo Jango: ao invés de acelerar, ele freou as
mudanças. Entretanto, por paradoxal que possa parecer, o efeito é
semelhante àquele observado no período 1961-1964.
O viés neoliberal de algumas poucas reformas capitaneadas
pelo governo petista e a postergação de outras, prometidas por
Lula durante a campanha eleitoral, vêm progressivamente
minando aquela convergência e produzindo um afastamento entre
as classes e camadas populares e as camadas médias o que, aliado
ao desemprego e à histórica desigualdade social, compromete
ainda mais a estabilidade social e política em nosso país. Um
terreno fértil para a direita e para os demagogos.
Apesar disso, nos dias de hoje, ninguém identifica no cenário
brasileiro alguma ameaça às instituições democráticas. Mas
também não se vê nenhuma medida do governo Dilma, tal como
ocorreu com o de Lula, que contrarie interesses importantes dos
grupos conservadores. Entretanto, a possibilidade de que isso
ocorra ainda não está zerada e cumpre não esquecer que as forças
de direita nacionais e internacionais possuem em seu arsenal
outros meios, como a fuga de capitais, para desestabilizar e se livrar
de governos indesejáveis.
De uma ou outra maneira, para avançar e defender a democracia, o desafio para as forças democráticas é evitar o aumento da
divisão entre as classes e camadas populares e as camadas médias, e
costurar uma nova convergência entre as mesmas. Isso passa pela
crítica aos equívocos do atual governo e pelo desenho de uma
proposta alternativa que possa levar às mudanças tão ansiadas pelo
nosso povo.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada