1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 77
sempre jogaram no mesmo time, mas divergiam quanto à melhor
maneira de transitar para a democracia.
Ulysses havia apostado tudo nas Diretas Já, ao contrário de
Amaral, que acreditava na eleição do vice-presidente Aureliano
Chaves, mas não contava com o apoio de Figueiredo à candidatura
de Maluf. A única opção para derrotá-lo era eleger Tancredo Neves
no Colégio Eleitoral.
Deu-se início então à campanha de Tancredo, para a qual
uma parte da esquerda torcia o nariz. Ex-ministro da Justiça e do
Interior de Getúlio Vargas, ex-primeiro-ministro da fase parlamentarista do governo Jango, o governador de Minas era um
conciliador nato. Em 1978, antevendo uma transição negociada
com os militares, chegara a fundar o Partido Popular, com apoio
da ala mais moderada do PMDB e de dissidentes da Arena, mas
voltou atrás após a proibição das coligações.
A campanha de Tancredo trouxe o povo de volta às ruas e
consolidou a hegemonia dos liberais na transição à democracia.
Foi eleito no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, tendo
como vice José Sarney. Foram 480 votos a favor (sendo 166 oriundos de deputados do PDS), contra 180 dados a Paulo Maluf, candidato do PDS, e 26 abstenções. O PT, contrário à eleição indireta e
ao acordo feito com os governistas, optara pela abstenção e expulsou três deputados que votaram em Tancredo: José Eudes (RJ),
Bete Mendes (SP) e Airton Soares (SP).
Doente, Tancredo não chegou a tomar posse, morreu em 21
de abril, depois de várias cirurgias causadas por uma diverticulite.
Símbolo do poder que estava sendo derrotado, quem assumiu a
presidência da República foi o vice José Sarney. As eleições diretas
para dirigente máximo do Brasil só viriam a ocorrer em 1989, após
ser estabelecida na Constituição de 1988. Sarney é hoje o político
mais longevo em atividade e uma espécie de fiador da aliança do
PT com o PMDB.
Liberais na luta contra a ditadura
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