1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 72
Se não prevemos uma queda fácil e imediata da ditadura,
temos, como Partido revolucionário, de subordinar nossa ação
política e o trabalho de organização a uma tal realidade.
A perspectiva é a de nos prepararmos, tanto no plano da
atividade política como no da organização, para um trabalho em
profundidade, cujos resultados só serão colhidos depois de um
período de maturação. Um trabalho adaptado a uma situação de
violenta reação política, em que a luta de resistência surgiu como
decorrência de uma série de derrotas e desgastes impostos ao
movimento revolucionário, nacional e democrático.
Nossa ideia de resistência apoia-se no fato de existir no
Brasil um sentimento generalizado de repulsa à ditadura, abrangendo as mais diversas classes e camadas sociais, mas disperso
e desorganizado.
Devemos partir de ações parciais, em todos os níveis do
movimento de massas ou dos acordos de cúpula, a fim de conseguir que aquele sentimento passivo vá tomando forma, pouco a
pouco, até se transformar num grande movimento nacional, em
frente única, que englobe os sindicatos, o movimento estudantil, a
Igreja Católica, os partidos e os políticos da oposição – um movimento que expresse, em nível superior, a rebeldia brasileira contra
o processo de fascistização do país. Cabe salientar, em relação ao
esforço destinado a impulsionar a luta de resistência, nas condições atuais, a valorização a ser dada às pequenas ações, mesmo nos
casos em que estas só indiretamente se oponham às medidas da
ditadura. O que não podemos é condenar a oposição ao imobilismo, na espera das grandes tarefas ou do dia supremo. A constante preocupação em descobrir e organizar a resistência concreta
das massas contra determinados atos do regime ditatorial é o
melhor antídoto para evitar os apelos à luta abstrata ou à resistência indeterminada. Desses apelos ao palavrório radical desligado
de qualquer objetivo real, basta apenas dar um passo.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada