1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 68
Pode parecer, em uma primeira leitura dos livros, que se teria
como evitar o golpe. Evidentemente não estava escrita na história a
inevitabilidade do golpe. Se ele “poderia” ter sido evitado (evidentemente que poderia) e não o foi, Elio mostra bem os motivos: a
fraqueza dos que apoiavam Jango, as indecisões do presidente, o
charlatanismo de seu dispositivo militar, as fanfarronadas, o oportunismo e a inépcia das frentes de esquerda e do PCB.
Além da reedição dos livros de Elio Gáspari acabam de sair
outros de grande importância para a compreensão do golpe civil-militar de 1964. Entre outros, destaco o de Daniel Aarão Reis, Ditadura e
democracia no Brasil (Rio de Janeiro: Zahar, 2014); de Daniel Aarão
Reis, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto de Sá Motta, organizadores, A
ditadura que mudou o Brasil – 50 anos do golpe de 1964 (Rio de
Janeiro: Zahar, 2014) e de Rodrigo Patto de Sá Motta, As universidades e o regime militar (Rio de Janeiro: Zahar, 2014).
O regime ditatorial foi sendo desmontado quando os donos do
poder não precisavam mais dele. Além de desgastada a ditadura, a
volta ao chamado Estado de Direito estava garantida sem maiores
percalços: as oposições haviam morrido, se desmoralizado, resolvido aderir à nova democracia ou eram em número insignificante.
Grande parte da juventude fora criada no regime de terror, sem
qualquer experiência democrática de participação popular. E o
regime e seus teóricos trataram de desmoralizar partidos políticos e
organizações sindicais.
Retomar a experiência democrática, deixando de lado os erros
do passado e conseguindo entender e teorizar tudo o que mudou,
não é tarefa fácil, mas deve estar diante daqueles que querem garantir um mundo mais solidário.
Apesar da situação atual, do pessimismo que parece se infiltrar na população ao relembrar 64, é preciso pensar no futuro, na
construção realmente democrática de nosso país. E pensando nisso
é sempre auspicioso lembrar Prometeu Acorrentado. Quando
perguntado que remédio dera aos homens contra o desespero,
respondeu: “Dei-lhes uma esperança infinita no futuro”.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada