1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 66
ditadura escancarada, A ditadura derrotada e A ditadura encurralada. Apesar dos livros tratarem especialmente dos meandros da
caserna, fica claro, a todo o momento, a participação – e iniciativa
do golpe – dos empresários e banqueiros do país.
Os livros de Elio reúnem três características indispensáveis
para pensar aquele momento histórico: contam com a inteligência,
cultura, formação história e talento do autor; sua participação no
PCB e as ligações dele com Geisel, Golbery e Heitor Aquino, o que
lhe proporcionou as principais fontes relativas ao poder daquela
época, fontes indispensáveis para um sério trabalho de pesquisa,
imprescindiveis portanto para o trabalho do historiador. Por isso
mesmo, outra característica importante da obra é que todo o relatado vem acompanhado de comprovação; e não se trata apenas de
uma crônica detalhada dos acontecimentos: a cada pormenor está
explícita uma interpretação sobre não só cada um dos governos da
ditadura como de seus principais protagonistas.
Ressalta-se também que as relações mantidas com Geisel,
Golbery e Aquino não impediram a visão crítica desses personagens,
às vezes uma crítica implacável, mostrando, por exemplo, a responsabilidade que eles tiveram pelas torturas e barbaridades cometidas
no período. Inclusive desmascara a fama de moderado de Castelo
Branco: “O AI-2 mostrou a essência antidemocrática da moderação
castelista” (A ditadura envergonhada, p. 240). Mostra a posição
indiferente do mesmo Castelo em relação ao que se fez com o coronel Jefferson Cardin de Alencar Osório – o primeiro militar torturado pelo Exército – quando preso pelas forças militares. Sua indiferença – e de Ernesto Geisel, então chefe da Casa Militar da
Presidência, que odiava o coronel, desde que este servira com Geisel
na década de 1950. E, pela primeira vez, o tratamento dado aos militares pelos próprios militares mudou – sem que Cordeiro de Farias
ou o brigadeiro protestassem. Nem em 1935, os militares presos
foram maltratados por seus colegas de farda. Com o tratamento
dado ao coronel Cardin, “a tortura entrou no Palácio do Planalto
como um acessório da eficácia nas investigações, arma de defesa do
Estado”. Elio mostra muito bem a pusilanimidade de grande parte
64
1964 – As armas da política e a ilusão armada