1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 62

NOS 50 ANOS DO GOLPE DE 1964 Marly de A. G. Vianna1 Nossa geração teve pouco tempo / Começou pelo fim./ Mas foi bela nossa procura./ Ah, moços, como foi bela a nossa procura,/ mesmo com tanta ilusão perdida,/ quebrada, / mesmo c om tanto caco de sonho/ onde até hoje / a gente se corta2 C ompletam-se 50 anos do golpe de 1964, meio século. Bastante tempo, parece ser. No entanto, nós, os derrotados naquela época, ainda não fomos capazes de elaborar uma análise crítica do período que nos permita não só identificar os erros cometidos como, principalmente, fazer com que essa discussão, recuando ao ano da vitória da Revolução Cubana, possa nos ajudar a esclarecer questões que talvez nos ajudem na unificação da esquerda do país. A análise que o então PCB fazia da situação nacional, expressa na linha política do V Congresso (1960), considerava o Brasil ainda carente de capitalismo, que para se desenvolver deveria expulsar o imperialismo e buscar o desenvolvimento autárquico do país. Dada essa análise, via-se como a principal contradição de nosso sistema a existente entre a nação e o imperialismo, considerada nação a imensa maioria dos brasileiros, pois dela só ficavam de fora os defensores do capital internacional, os “entreguistas”. O país manteria ainda traços feudais, outro indício da carência de capitalismo. E dessa carência deduzia-se o interesse da burguesia local na revolução, nacional em primeiro lugar e democrática no futuro. 1 2 60 Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), professora aposentada pela Universidade Federal de São Carlos, e atualmente professora titular do Mestrado em História, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), em São Gonçalo/RJ. Alex Polaris.