1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 49

atores e agentes sociopolíticos no presente –, retificando concepções e intervenções estabelecidas e autenticadas. Experimento democrático O curto período do governo João Goulart – cerca de dois anos e meio –, com todos os problemas e atribulações, representou um dos raros momentos autenticamente democráticos na história de uma República excludente e autoritária. Nele confluíram e encontraram condições propícias para desabrochar vários movimentos e organizações, reivindicações e lutas, que vinham se desenvolvendo desde o início dos anos 1950 e que se achavam, de alguma forma, constringidos. Durante o governo Jango houve, indubitavelmente, o alargamento das liberdades, a expansão dos direitos de cidadania, o encorpamento e a autonomização, ainda que relativa, da sociedade civil. Desde meados da década de 1950, vinha ocorrendo um aumento da capacidade mobilizatória do sindicalismo urbano: renovaram-se diretorias de sindicatos, federações e confederações; foram organizadas diversas entidades de trabalhadores, inclusive uma central sindical (Comando Geral dos Trabalhadores – CGT), esboçando a criação de uma estrutura organizativa horizontal, em detrimento da estrutura oficial, de perfil vertical; as lutas (greves, mobilizações) alcançaram uma razoável expansão e, além das reivindicações econômicas e corporativas, agregaram-se outras mais amplas, como as reformas de base. Esse sindicalismo passou a se apoderar e penetrar nas agências estatais e paraestatais e também a influir no aparato governamental, criando, inclusive, uma situação anômala, na medida em que subvertiam as finalidades (de controle e subjugação) para as quais havia sido criado. Um elemento novo nesse quadro é a emergência dos trabalhadores rurais no cenário sociopolítico nacional. As associações, ligas e uniões, que se formaram na década de 1950, transformaram-se em sindicatos no início dos anos sessenta e foram reconhecidos a partir de 1962. Esse fato impulsionou a luta pela reforma Crise de poder e espoliação da democracia 47