1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 482

mental que contava com o apoio da sociedade brasileira; segundo: anulação da lei da estabilidade do trabalhador aos dez anos de trabalho numa empresa. Ou seja, uma paulada na nossa condição de país independente, uma ação antinacional, e outra antissocial. Estabelecido o golpe, instalou-se a resistência, que começou, no Brasil, na mesma noite do golpe. O Partido Comunista, no Rio Grande do Sul, reuniu sua diminuta direção – havia sido diminuída para ter maior mobilidade. Reuniu-se numa kombi que transitava pela cidade, em função de medidas que deveriam ser adotadas. Em 1967, o PCB realizou seu VI Congresso. A nação, as forças de resistência, estavam divididas em duas grandes correntes. Uma delas apontava o caminho armado, porque a ditadura havia fechado todas as portas, segundo proclamavam. A outra dizia que não, liderada pelo Partido Comunista. Se existe uma fresta, devemos aproveitá-la. Porque argumentávamos assim? No plano militar, na tática militar, nunca se enfrenta o combate com o inimigo pelo flanco em que ele é forte. Che Guevara, em seu livro Guerras e guerrilhas, na segunda ou terceira página – se não me engano – diz duas coisas mais ou menos assim: uma, “enquanto existirem lampejos de democracia, ainda que muito tênue, esfarrapada, não chamem o povo para nenhum caminho armado. Outro ensinamento, uma informação, do ponto de vista de tática militar: certa noite, um grupo guerrilheiro contornou a montanha para evitar o combate com o inimigo, porque o inimigo era mais forte”. Então o nosso raciocínio – o do Partido Comunista – era: no plano militar, do ponto de vista numérico, de homens em armas, do ponto de vista da qualidade das armas, do ponto de vista do terror que o Estado praticava – pois o Estado podia chegar, de madrugada, numa casa, prendendo o chefe de família, a mulher, uma filha, um sobrinho, levando para a cadeia, impedindo, no outro dia, que os jornais publicassem algo, pois a censura existia, e do preso pode-se fazer o que quiser, inclusive matar, como aconteceu em muitos casos. O inimigo não podia ser enfrentado onde era mais forte. O combate deveria se dar no plano do debate político, no qual os golpistas eram fracos, não tinham mensagem política. O caminho proposto era o caminho da luta pelo 480 1964 – As armas da política e a ilusão armada