1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 481
primeiros ministros pôde governar, Jango sem poder, o Parlamento continuava com a mesma correlação de forças, maioria
antiJango, impedindo que o Brasil avançasse.
Este período foi riquíssimo em termos de movimentação da
sociedade e em termos de formulação de reivindicações. Jango aceitou a questão das reformas de base (reformas bancária, agrária e
urbana). Tinha o suporte da população. Há quem diga que a causa
do golpe foi o esquerdismo de Jango, o radicalismo das forças que o
apoiavam. Isso é meia verdade. A determinação dos golpistas estava
acima disto, embora, nós da esquerda, tenhamos cometido alguns
erros. E o próprio Jango, numa noite, em 13 de março de 1964, em
um comício que foi realizado na frente da gare da Central do Brasil
e, ao mesmo tempo, ao lado do Palácio do Exército, puxou do bolso
dois decretos. Um deles desapropriava todas as refinarias de petróleo, no território nacional, e o outro estabelecia a desapropriação
das terras acima de 500 hectares ao longo de rodovias e ferrovias.
Numa noite só, Jango colocou um dedo na moleira do imperialismo
e um outro na cabeça do latifúndio, que eram as duas forças que
mandavam no país e que ainda mandam até hoje. (...)
O presidente foi derrubado e instalou-se no Brasil a ditadura
militar. Na nossa costa, navios da Marinha dos Estados Unidos
navegavam em águas brasileiras – isto não é invenção, o Jornal do
Brasil fez uma série de cinco ou seis reportagens a respeito, em
Washington e Nova York e Jango foi derrubado. Instalou-se no
Brasil a ditadura militar. Vasculhando arquivos que já haviam sido
liberados pelo Departamento de Estado, pois já se passavam dez
anos, o JB pôde revelar que, nas costas brasileiras, uma esquadra
tomava posição para agir se os lacaios locais não dessem conta do
recado. Para quem tem alguma dúvida a respeito da ingerência
externa, norte-americana, em nosso país, em comunhão com forças
retrógradas aqui de dentro, basta ver os dois primeiros atos do
governo que assumiu, do general Humberto Castelo Branco. Foram
eles: primeiro, a revogação da Lei de Remessa de Lucros – uma lei
que estabelecia que todo o lucro das multinacionais, auferidos no
Brasil, deveriam ser reinvestidos aqui – era uma decisão governaPor que os comunistas disseram não à luta armada
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