1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 473
A vida política foi se conturbando com o aprofundamento do
choque entre o governo e a oposição, que meses antes celebravam
o acordo da implantação do parlamentarismo. A UDN, centro civil
do golpe, havia sido batida em 1961, quando através do sr. Carlos
Lacerda, precipitou a renúncia do sr. Jânio Quadros. A partir de
setembro daquele ano, suas alas foram passando para a conspiração, na medida em que o governo Goulart mantinha e ampliava
seus compromissos com as correntes progressistas. Havendo resistido ao restabelecimento do presidencialismo, a UDN sentiu-se
acuada pelas pressões que levaram o Congresso, no início de 1961,
a votar uma emenda constitucional derrogando o Ato que instituiu
o parlamentarismo. Dessa época em diante tornou-se extremamente difícil o diálogo do governo com a oposição.
Essa atitude antigovernamental da UDN foi contaminando o
centro tradicional – o PSD. Os pessedistas sentiram-se ameaçados
pelo incremento da pressão popular em torno das teses progressistas, notadamente a das reformas de base. Quando o governo colocou a necessidade de uma emenda constitucional, que abrisse o
caminho para uma reformulação da estrutura agrária, o PSD
evoluiu para franca oposição ao Planalto, em sintonia com suas
bases conservadoras do interior do país.
As forças progressistas não deram, então, o devido valor, à
contraofensiva reacionária em torno da reforma agrária. O quadro
era curioso: quem fazia concentrações no interior eram os adversários da reforma, pois os camponeses ficavam, em geral, imóveis
diante do debate. Tudo indicava às forças progressistas que era
necessário mudar de tática, levando em conta a alteração da correlação de forças, que passara a ser desfavorável. Se isso tivesse sido
visto, as forças progressistas não aceitariam o aceleramento do
processo, buscando somente consolidar suas posições.
A situação complicou-se extraordinariamente quando surgiu
à tona a básica questão da transferência do poder, que deveria se
dar em 1965. O governo Goulart via aproximar-se a hora da sucessão e não estava preparado para enfrentá-la. Não dispunha de
candidato capaz de derrotar o sr. Carlos Lacerda. As forças popuCausas da derrocada de 1° de abril de 1964
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