1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 461
conseguiu atrair a classe operária para várias lutas, particularmente
as de caráter político, foram surgindo teses a respeito de um "aburguesamento" do proletariado, notadamente o de São Paulo. Os defensores da tese do "aburguesamento" derivam sua conclusão do fato de
a classe operária se encontrar ainda baixo a dominação ideológica e
política das classes dominantes no Brasil. Demonstram, assim, sua
indigência teórica, pois confundem a "classe em si" e a "classe para
si". Vivendo sob a dominação de outras classes, o proletariado brasileiro é ideologicamente influenciado por elas. Mas, sua situação na
sociedade e na produção conduz inevitavelmente a lutar por seus
interesses de classe oprimida, opondo-se aos opressores.
Naturalmente, os defensores da tese do "aburguesamento"
revelam-se desencantados porque a classe operária brasileira não
segue "suas palavras de ordem", nem luta como o proletariado
italiano ou francês. Ao invés de procederem a um exame autocrítico da justeza dessas "palavras de ordem" ou da linha geral que
tentaram dar ao movimento operário, formulam acusações ao
proletariado. Incriminam-no por ganhar salários "altos" (sic) ,
mais elevados que os dos trabalhadores nordestinos e dos assalariados agrícolas. Enquanto isso se dá, o proletariado luta no nível
de sua consciência atual e enfrenta com realismo seus inimigos,
vivendo sua experiência social e política.
Ao aprofundar-se a análise, fica evidente a apreciação idealista de muitos sobre a classe operária brasileira. Não se a procura
examinar como é na realidade, qual seu processo de formação, seu
nível de consciência, seus defeitos e virtudes etc. Não é dizer nada de
novo afirmar-se que esse comportamento nada tem de marxista. Em
suas obras, Marx, Engels e Lênin examinaram a classe operária
alemã, francesa, russa e de outros países, com profundo realismo e
espírito crítico aguçado. Jamais os clássicos do marxismo, “passaram as mãos sobre a cabeça" do proletariado. Dentro do movimento
revolucionário brasileiro sempre foram precários os estudos sobre a
classe operária e suas lutas. Tal descaso tornou-se ainda mais
flagrante e nocivo quando surgem tentativas sérias, dentro dos
meios universitários, de se pesquisar as experiências do movimento
Causas da derrocada de 1° de abril de 1964
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