1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 452
tornaram ainda mais precário o fornecimento de gêneros essenciais aos consumidores dos grandes centros. Exemplifica isso o que
sucedeu com o arroz, nos primeiros meses de 1963, que desapareceu da Guanabara, determinando providências oficiais confusas,
divergentes e contraproducentes, que além de não resolverem a
questão, somente deram maior impopularidade aos governantes.
A análise da vida econômica e financeira, no biênio em que
governou o sr. João Goulart, indica como se sentiram ameaçados
vários setores da minoria privilegiada. Tais círculos lutaram com
tenacidade para derrubar o governo constitucional pois não aceitavam um arranhão sequer em seus privilégios. Mas essa análise
esclarece, contraditoriamente, como certas dificuldades lançaram na oposição vários setores populares que afinal nada ganharam com o golpe de Estado, embora tenham contribuído, pela
ação ou omissão, para o mesmo. Que grupos privilegiados tivessem ficado contra o governo, isto era até certo ponto natural, não
obstante seja discutível se foi acertada a atitude de se provocar
tantos adversários a um só tempo. Inadmissível, porém, é que
segmentos populares tivessem (não por sua culpa, é claro)
engrossado as águas da reação golpista.
Verificando-se, a partir de 1962, uma forte depressão na
economia, ao mesmo tempo em que se agravava o processo inflacionário, criou-se, durante a administração do sr. João Goulart,
um ambiente de tensão e de agravamento das contradições na vida
brasileira. Daí o clima favorável ao surgimento de uma séria crise
de natureza social e política. A responsabilidade maior disso
deveu-se ao aprofundamento da crise estrutural em nossa pátria,
assim como a fatores de caráter conjuntural.
Tais fatores, notadamente a crise na estrutura, deveriam
determinar uma queda vertiginosa na eficiência do aparelho estatal, o que foi aproveitado largamente pelos oposicionistas. Por
detrás, porém, de todos os erros cometidos pelo governo Goulart
encontravam-se causas mais sérias, que não são analisadas pelos
apologistas da "nova ordem", implantada em abril de 1964.
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