1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 432
emprego indiscriminado da violência, embora compondo objetivamente o quadro da oposição, não deixam, apesar de seu suposto
caráter revolucionário, de desservir à resistência e de dificultar a
organização da frente única de massas contra a ditadura. Em uma
palavra, enfraquecem a oposição.
O trabalho paciente, cauteloso e demorado de organização
da classe operária e do povo, de sua preparação para enfrentar
uma luta prolongada, se assim for preciso, que constitui para o
nosso Partido uma alta virtude revolucionária, não passa, para
aqueles grupos, de um pecado mortal oportunista.
É esse o quadro da oposição. Quadro que explica porque a
ditadura, apesar de suas fraturas e instabilidade, ainda encontra
meios e formas para avançar no processo de fascistização. Quadro
que se modificará, com maior ou menor ritmo, a partir do momento
em que o processo político, permitindo uma reflexão mais profunda
da oposição sobre sua experiência, indique-lhe a maneira de usar
sua imensa potencialidade para organizar os combates e a batalha
final contra a ditadura.
V
O exame até aqui feito sobre as forças presentes e em conflito
na sociedade brasileira induz a um otimismo realista em relação à
formação de uma frente antiditatorial.
Essa conclusão, juntamente com a de que não é fácil a consolidação do regime atual, não autoriza, porém, qualquer atitude
política alicerçada na subestimação dos suportes da ditadura.
Quando dizemos que a ditadura se isola de determinadas forças
políticas, não estamos, ipso facto, prevendo a sua queda imediata.
Queremos tão somente significar que surgiram novas dificuldades para o regime, que podem aumentar ou desaparecer, em
dependência dos erros ou acertos de seus opositores.
O dimensionamento das dificuldades atuais do regime, em
confronto com a capacidade de ação da oposição, indica que elas não
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