1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 424
As correntes de oposição – e, claro, entre elas, o nosso
Partido – têm, com as eleições, um grande campo para potencializar a resistência à ditadura. Nada nos leva a crer que as próximas
eleições, cercadas como estão pelas medidas coercitivas da ditadura, possam ser decisivas para a liquidação do regime – é uma
advertência que não podemos deixar de fazer.
Mas não tenhamos dúvidas de que elas vão concorrer, e
muito, para a nova crise em gestação. Daí a sua importância para a
oposição. Ninguém pode dizer, com segurança, o resultado de uma
nova crise, se haverá alguma abertura (não entramos aqui na
discussão sobre a extensão de tal abertura, mas consideramos
apenas que o alargamento da faixa das liberdades, por menor que
seja, ajuda a organizar a resistência ao avanço do fascismo), ou se
serão ampliadas as medidas repressivas, com novas restrições às já
quase inexistentes liberdades civis. O que não se pode é ficar à
margem, acatar o desejo do general-presidente. Isto é, participar
das eleições sem contestar o regime. A oposição, particularmente
as forças de esquerda e o nosso Partido, não pode, como quer o
atual presidente, permitir que a opinião pública, em hipótese
alguma, seja confundida a ponto de admitir as medidas repressoras do regime como necessárias à defesa da democracia. O regime
de abril, por sua essência de classe (serviçal das velhas classes
dominantes, do imperialismo etc.), por suas vinculações antinacionais e por sua ideologia reacionária, pode, tranquilamente, ser
classificado como de tipo fascista.
Enfim, o general Garrastazu, no primeiro trimestre de existência de seu governo, revela, em nível diferente, dificuldades
semelhantes às dos outros dois governos que o antecederam:
mostra-se incapaz de montar um sistema político compatível com
o poder militar que lhe deu origem, um sistema que legalize este
poder – razão de sua força e fraquezas.
III
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1964 – As armas da política e a ilusão armada