1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 418
fascista. As peculiaridades assumidas pelo tipo brasileiro de
fascismo, nesta segunda metade do século XX, não devem confundir ninguém. A percepção disso é um mérito que não se pode negar
ao nosso partido.
Há muito que batemos nessa tecla, e fomos nós os primeiros a
mostrar a diferença entre o golpe de 1964 e os demais golpes militares realizados no Brasil, depois do fim da Guerra Mundial. O fato,
entretanto, nem sempre é visto com clareza pelas várias forças e
correntes políticas de oposição ao governo. E essa falta de compreensão leva, frequentemente, a ilusões que, de um lado, favorecem o
processo de fascistização e, de outro, entorpecem a unificação e a
combatividade das forças políticas e sociais que a ele se opõem.
É ela, igualmente, que impede a visão global do processo e
induz certos analistas políticos a encarar as sucessivas crises do
governo assinaladas depois de abril de 1964 como episódios isolados, e não como marchas e contramarchas, provocadas, de uma
parte, pelo esforço fascista para dar vida ao seu projeto de um
Estado autoritário, militarista e tecnocrático, e, de outro, pela
resistência das forças democráticas à realização de tal projeto.
Se conseguirmos, com nossas constantes advertências, esclarecer a opinião pública sobre o caráter do regime, será mais fácil
estimular a resistência ao seu avanço: não se trata de oposição
apenas ao governo de Médici ou de outro general qualquer; o que
se pretende é barrar e liquidar o processo de fascistização, restaurar e renovar o regime democrático, de forma a permitir que os
trabalhadores e a maioria do povo, vencida a contra-revolução de
1964, voltem a impulsionar o Brasil no sentido de sua completa
emancipação nacional.
Visto nesse contexto, o ano de 1969 foi um ano de recuo das
forças democráticas e de avanço da ditadura. As medidas tomadas
a partir do AI-5 (supressão do habeas-corpus, fortalecimento dos
órgãos de repressão, emprego da violência e do terror abertos para
o combate à oposição ao governo e ao regime etc.) criaram maiores
dificuldades para a manifestação das massas.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada