1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 40

estagnação econômica, e assim incorporaria as massas rurais à sociedade moderna e constituiria um mercado consumidor à altura do desenvolvimento em curso das forças produtivas capitalistas. Uma visão “etapista” da revolução, repetiriam os críticos muitas vezes, apontando, não sem razão, a velha origem terceiro-internacionalista destes conceitos e ressaltando, nas análises mais penetrantes, a impossibilidade de um desenvolvimento capitalista autônomo no quadro de industrialização dependente e de internacionalização da economia já em ritmo acelerado pelo menos desde os anos JK. Mais além da polêmica, no entanto, o fato é que com a Declaração de Março os comunistas do PCB conseguiram pelo menos esboçar uma política de “reformas de estrutura”, potencialmente capaz de mobilizar a sociedade em torno de objetivos parciais e factíveis e não apenas em torno do objetivo final do socialismo. Este elemento de gradualismo, que de algum modo implicava valorizar as instituições propriamente democráticas, também significou aproximar-se, de modo realista, da corrente principal da vida política dominada pelo petebismo e suas “reformas de base” – e seria uma das marcas da atuação do PCB antes e, mais particularmente, depois de 31 de março de 1964. Como também o seriam a definição de uma política ampla de alianças e a possibilidade de encaminhar a mudança social num contexto de legalidade democrática e constitucional, precisamente por causa do caráter pluriclassista das alianças pretendidas. Era o “caminho pacífico da revolução brasileira”, para retomar uma audaciosa formulação do documento de 1958, tantas vezes contestada no pós-64. Que não se tratava de mudanças superficiais resta comprovado pela nova vitalidade adquirida pelo PCB nos anos imediatamente anteriores ao movimento militar e que só teve precedente no curto período de legalidade entre 1945 e 1947. Uma renovação, de resto, atestada – “a contrario” – pela cisão d ita “marxista-leninista” dos antigos setores mais stalinistas e aferrados à lógica da inevitável estagnação do capitalismo entre nós. Tais setores, a partir de 1962, se reagruparam no PCdoB e buscaram reconstruir 38 1964 – As armas da política e a ilusão armada