1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 362
Pois é milagroso, em termos de classe! Quanta gente morreu nesse
negócio, ou foi psicologicamente, ideologicamente, humanamente
destruída...4 (grifos meus)
No que diz respeito ao esquema de recrutamento, existiam
critérios para verificar se era possível ou não admitir a entrada de
determinado militante no quadro de ação da organização, como
relembra a ex-guerrilheira Vera Silvia Magalhães, participante do
sequestro do embaixador norte-americano:
Fazíamos testes para verificar o quadro em ação. Por exemplo:
roubar uma placa de automóvel ou então fazer um discurso na
porta da fábrica, no início do horário de trabalho. Isso servia para
verificar se o indivíduo estava preparado.5
A participação das mulheres foi extremamente importante
na luta armada. Quando buscamos, através da memória, quem
seriam essas mulheres, nos remetemos a artistas, intelectuais e
estudantes, porém ao fazer uma leitura mais apurada do período,
percebemos que mulheres de várias classes sociais tiveram participação no movimento (operárias, donas de casa, mães e avós etc.).
Elas desempenharam funções as mais variadas como costureiras,
motoristas, locatárias de imóveis (para transformá-los em aparelhos), acolhimento de clandestinos, e ainda atuações em sequestros, apropriações, pichações, dentre outras.
No documentário produzido e dirigido por Lúcia Murat, Que
bom te ver viva (1980), temos o depoimento de algumas mulheres
que participaram da luta armada e foram torturadas. É importante
salientar que, na grande maioria dos depoimentos, essas mulheres
evidenciaram como benesse a questão da maternidade, ou seja,
como foi importante para algumas terem filhos, seja no cárcere ou
depois de serem libertadas, como no depoimento de Crimeia, no
qual coloca como o nascimento do filho era extremamente impor4
5
SOUZA, Herbert José de. Op. cit., p. 87.
PATRIOTA, Rosangela. Vera Silvia Magalhães: Estrangeira em seu próprio país? In:
Revista Cultura Vozes, v. 92, n. 01, 1998. p.105.
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