1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 353

Diante dessas arbitrariedades encetadas pelo aparato repressivo-judicial, moradores de bairros periféricos e de favelas começaram a se organizar para denunciarem as ilegalidades do aparato repressivo-judicial. O Centro de Defesa dos Direitos Humanos, criado na periferia da cidade de São Paulo, em 1978, por exemplo, tinha como objetivo divulgar informações a respeito da situação dos direitos humanos na região, denunciar violações aos direitos humanos e organizar um arquivo com notícias de jornais, revistas e boletins relacionados com o problema (SINGER; BRANT, 1982). Além disso, o órgão se propunha a fazer um trabalho mais amplo de formação, dar orientação e assistência jurídica nos casos de problemas coletivos e individuais e mobilizar as pessoas em torno da defesa dos direitos dos moradores do bairro. O surgimento desses centros se devia ao desamparo vivido por esses segmentos sociais que viviam em bairros periféricos ou em favelas, à reiterada violação dos seus direitos civis e a uma defesa jurídica que não funcionava para essa parcela da população. Processos que eram abertos para apurar a violência ficavam inconclusos e naqueles em que se chegava a algum desfecho eram raras as punições. Com isso, os policiais tinham legitimidade para continuar agindo contra essas pessoas como se todos “fossem delinquentes em potencial”. Desde a inauguração do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, apareceram os primeiros relatos sobre a realidade vivida pela população desses espaços. Um dos casos de maior notoriedade foi o relato de famílias inteiras torturadas pela polícia para revelarem o paradeiro de suspeitos de cometerem assaltos. Esse caso ganhou destaque, mas segundo informações, a violação dos direitos se transformou em algo rotineiro. Demonstração clara de que, na realidade brasileira, contrariamente ao ocorrido em outros países, tais como Inglaterra, França e Estados Unidos, nos quais houve o reconhecimento de direitos civis, no Brasil tais direitos civis ou individuais não eram garantidos devido aos governos ditatoriais das décadas de 1930 e 1940 e dos anos 1960 até o início de 1980. Repressão e violência de Estado contra as classes populares 351