1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 341

dades (suspeitíssimas, aos olhos dos novos donos do poder) da Editora Civilização Brasileira, Ênio Silveira teve a prisão decretada, pois, alegava-se, o fato de ele ter oferecido uma feijoada a Miguel Arraes e a outros amigos, pouco antes de o governador de Pernambuco buscar asilo na Embaixada da Argélia, era a cabal demonstração de que dera guarida a um inimigo do regime. A farsa da alegação foi desmascarada, dentre outros, pelo jornalista Hermano Alves, em artigo no Correio da Manhã, de 28/5/65. Dois dias depois, Rubem Braga, no Jornal do Brasil, escreveu que a prisão do editor causava repulsa a todo aquele que prezasse o debate de ideias e a liberdade de opinião. O mesmo “JB”, no entanto, numa exceção deplorável, sem citar o nome de Ênio, mas claramente tendo-o em mente, escreveu um editorial repulsivo, em 28/5/65, sob o título “Ócio glorificado”, no qual defendia não só os atos dos ferrabrases tupiniquins, como tentava desqualificar o editor ao descrever um grupo formado por gente vaidosa e pedante, movida pela frustração literária e o ressentimento ideológico, onde se destaca o tipo que mesmo não escrevendo, mas apenas editando, acaba “convencido de que exerce também atividade de natureza intelectual”. Figuras, enfim, continuava o editorial, integrantes de um “universo pequeno”, “uma subelite ociosa, que acorda tarde porque vara as noites sem ter o que fazer, em bares de prestígio noctívago”. Os números 3 e 4 da RCB publicaram textos de Ênio Silveira escritos na cadeia, sob o título geral de “Epístolas ao Marechal”, dirigidas a Humberto de Alencar Castello Branco, então entronizado, dias depois do golpe, como o donatário da hora da capitania Brasil. A partir do número 5 da RCB, o poeta Moacyr Félix, até então membro do Conselho de Redação da revista, assumiu o cargo de Secretário de Redação, no lugar de Roland Corbisier2. 2 Com a prisão de Ênio Silveira, M. Cavalcanti Proença o substituiu no cargo de diretor-responsável da revista (números 5 a 8). A partir do número 9 e até o encerramento das atividades da RCB, Moacyr Félix assumiu a direção geral da publicação, cabendo a Dias Gomes auxiliá-lo como secretário. Memórias de um tempo de barbárie 339