1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 334
de uma emenda constitucional, a forma encontrada para permitir
a posse de Jango, mas limitando-lhe os poderes. Apocalípticos de
algibeira diziam que a alternativa a essa medida era a guerra civil.
Em suma, aceita tal premissa, a solução de compromisso representada pela instalação do sistema parlamentarista no país, formalizada por meio de um Ato Adicional à Constituição, teria salvado o
Brasil do Armagedom, lugar, segundo a mitologia neotestamentária, onde se dará a batalha final entre o bem e o mal.
Jango no poder, a resistência de seus adversários (inimigos,
seria o termo mais adequado) à situação não cessava, e só fez
aumentar quando o presidencialismo retornou ao sistema político
brasileiro graças a um plebiscito, restituindo ao presidente plenos
poderes, até então tolhidos enquanto vigorou o parlamentarismo.
Amplos setores da classe média, da grande imprensa (o jornal
Última Hora excetuado), do empresariado, mancomunado aos
setores militares mais retrógrados, sem esquecer as pregações da
Igreja Católica, recomendando aos fiéis rezarem o terço para debelar o perigo bolchevista, combinado tudo isso com as denúncias do
almirante Penna Botto acerca de uma ofensiva comunista em todos
os setores da sociedade brasileira, infiltrando-se nos sindicatos,
entre os “burgueses progressistas”, os “pseudointelectuais”, nas
“organizações religiosas”, e por aí seguia a enfiada de parvoíces do
cavalheiro, foram minando as bases de apoio ao presidente.
Em larga medida, as forças progressistas de nosso país acreditavam naquela época ter a capacidade de “construir castelos no céu”,
para usar aqui uma expressão otimista de Lewis Munford, otimismo
que mais tarde ele mesmo viria corrigir. Assim, era incessante a
pressão da esquerda sobre Jango, instando-o a pôr em prática as
prometidas “reformas de base”, sem as quais, pregava-se, e não de
todo errado, não se daria o desenvolvimento do país. A reforma
agrária, dizia-se, era uma necessidade premente. Nos idos de março,
Jango assinou alguns decretos nesse sentido, batendo de frente com
o Congresso, que reagiu às medidas presidenciais, considerando-as
uma usurpação de suas legítimas atribuições constitucionais.
A complacência do presidente da República com a indisciplina de
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1964 – As armas da política e a ilusão armada