1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 317

de, no futuro, supostamente realizar o grande sonho de grandeza do país. O tempo passou, mostrou a inconsistência e o alto preço pago por esse sonho que mais se assemelha a um pesadelo e, ao que parece, a lição ainda não foi efetivamente aprendida. Se fizermos um paralelo entre os eventos que culminaram com a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961 e o golpe de 1º de abril de 1964, veremos que, apesar desses eventos jogarem uma luz cristalina sobre a lição democrática que precisamos aprender, até hoje continuam, no entanto, sendo ignorados pelas principais forças e partidos que dominam a cena brasileira, nos dias atuais. E o que desponta desse paralelo é que o apoio da opinião pública, decisivo para selar o desfecho das duas crises políticas, tanto a da renúncia de Jânio, quanto a quartelada de 1964, foi dado, em cada um daqueles momentos, ao bloco de forças que, na compreensão popular, melhor encarnava ou dissimulava, dependendo do caso, a intenção de salvaguardar a legalidade democrática. Isso explica o porquê das forças democráticas, reformistas e de centro-esquerda, que tanto apoio público receberam para barrar o golpe militar no episódio da renúncia de Jânio, empunhando a bandeira da Constituição e da legalidade, não tenham tido o mesmo êxito em abril de 1964. Nesse segundo episódio, a centro-esquerda permitiu equivocadamente que a bandeira da democracia resvalasse para as mãos de um campo ampliado de centro-direita, que fez o uso consciente dos medos da classe média e dos setores ligados ao grande capital para implantar, finalmente, a ditadura que perseguiam desde o início do pós-guerra no Brasil. No curso da resistência à ditadura, parte da lição aprendida com o golpe foi rapidamente assimilada quando as forças mais lúcidas do campo democrático perceberam acertadamente que tão somente a luta política de massas, tendo como eixo o restabelecimento da democracia, teria a força necessária para isolar e derrotar os militares e políticos que traíram as bandeiras pseudolegalistas de 1964 implantando em detrimento delas um duradouro regime de supressão das liberdades, submissão das instituições e violação dos Direitos Humanos. O curso da história terminou Lições básicas 315