1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 310
E não posso deixar de assinalar, explicitamente, que um dos
méritos do PCB, antes e depois de 1964, consiste precisamente em
não se ter deixado envolver pelos equívocos esquerdistas.
O golpe dentro do golpe
Este processo de luta interna interferiu na visão sobre o
“milagre econômico” que explodiria pouco depois, tanto que o
Partido não conseguiu antevê-lo. Mas, pelo menos, me parece que
tivemos o bom senso de constatar que estava havendo crescimento
econômico. O que já foi uma grande coisa para a nossa tradição de
querer torcer a realidade segundo os nossos desejos. Conseguimos
evitar isso. Não se pode dizer que tínhamos uma visão cientificamente correta, mas acertamos no fundamental, ao constatar que
havia crescimento.
O AI-5 foi uma necessidade do regime e, naquela altura dos
acontecimentos, a linha estabelecida em 1967, no VI Congresso,
armava-nos para acertar no fundamental. O centro da nossa tática
passou a ser a luta pelas liberdades democráticas, compreendendo
que o nó da democracia é que iria definir o processo. É que, a partir
de 1967, o Partido cristalizou uma concepção que iria demonstrar-se vitoriosa. O que não acontecera no início dos anos 60, quando
teríamos que nos agarrar na defesa da continuidade do processo
democrático e não o fizemos.
Foi talvez uma das situações mais complicadas pelas quais
passou o Partido em toda sua existência, na medida em que o PCB
ficou isolado dentro da própria esquerda. Acredito termos sido a
única força a apostar na luta de massas naquele momento –
enquanto o restante da esquerda foi ganho para a visão da luta
armada de grupos vanguardistas.
Realmente, foi um período muito difícil para nós. Uma parte
do próprio Partido fez defecção e fundou alguns desses movimentos, que floresciam em toda parte, com alguma força – em alguns
casos, com apoio internacional, inspirado em algumas correntes
do movimento comunista. Nossa política chegou a ser criticada
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1964 – As armas da política e a ilusão armada