1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 299

defesa dos movimentos populares. Para tanto, foram tomadas diversas providências. Por exemplo, realizamos um curso teórico e prático em que foram dadas aulas para alguns companheiros. Este “trabalho especial” abrangeu um conjunto de tarefas. Mesmo quando o Partido não tinha legalidade jurídica, mas era tolerado e desenvolvia uma atividade legal extensa, também realizava ações clandestinas. Naquele período, num quadro em que dávamos prioridade às reformas estruturais, o PCB colocava uma perspectiva de luta pela transição pacífica ao socialismo. Mas na própria resolução do V Congresso (1960) não se afastava inteiramente a hipótese de uma luta armada no Brasil. Entendimento que parcialmente vinha de análises anteriores, pois em algumas fases de nossa história colocamos a luta armada como um elemento central de nossa política. As lutas armadas no campo A linha do Partido, logo após a Revolução na China, em 1949, enfatizou a perspectiva de estabelecermos áreas libertadas no interior do Brasil, o que, em alguns lugares, não era tão complicado. Porque nas pequenas cidades do interior há uma delegacia, um cabo de polícia e uns poucos soldados que não estão preparados para coisa alguma... Então, os revolucionários podem chegar lá e tomar o “poder”. Mas, e depois? Ora, naqueles anos, não havia no Brasil uma situação revolucionária ou pré-revolucionária tal como na China. E nesta havia uma tradição peculiar de luta armada. Quando o Kuomintang se formou era uma frente política ampla, na qual participava o Partido Comunista Chinês. Ademais, o Kuomintang se dedicou a organizar um exército e para tanto até criou uma Academia Militar, destinada a formar seus oficiais. Nela, o comandante era Chang Kai Chek e o líder comunista Chu En Lai, o comissário político. E a Grande Marcha foi o deslocamento de uma força militar estruturada que tinha clareza política.3 3 Ver nota ao final deste texto. O Golpe de 1964 e aspectos da política brasileira 297