1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 298
Nossas visões ora golpistas ora corretas
No período de 1947 até 1958, o PCB imaginava que existia no
Brasil uma situação pré-revolucionária. Mas, nessa política em
geral equivocada houve algumas iniciativas corretas. Relembro o
fato de uma comissão, criada pelo Comitê Central, ter realizado
um estudo sobre movimentos populares no Brasil marcados por
ações armadas, como a Cabanagem, no Pará (1835-1840) e a Sabinada, na Bahia (1837-1838). No entanto, esse estudo não teve
continuidade e maiores consequências. Participei nessa comissão
dirigida por Agildo Barata.
Nos anos 50, sofreram altos e baixos as iniciativas para
preparar o Partido para formas de luta mais radicais. Foi uma coisa
um pouco em ziguezague. Aqui, indispensável acentuar um dado
fundamental. Naquela fase, a situação internacional era um fator
da maior importância e muito influía em nossa orientação política.
Particularmente, o que causava impacto era a Revolução Chinesa,
pois, de repente, mais de um bilhão de pessoas liquidou o regime
que existia na China, e se propôs a criar uma sociedade socialista.
E isso se deu pela via de uma ação militar armada.
Essa não foi a única influência que sofremos. Numa série de
países foram vitoriosos movimentos revolucionários que seguiram
pelo caminho da luta armada, como os de libertação nacional na
África. Posteriormente, na América Latina isso culminou com a
Revolução Cubana (1959), na qual foi colocada com muita força a
questão da via armada. É claro, portanto, que tudo isso teve uma
repercussão enorme nas fileiras do PCB.
De outro lado, nesse quadro, depois da renúncia de Jânio
Quadros da Presidência da República (1961), o Partido se viu
diante da eventualidade de uma guerra civil, possível, iminente. E
a direção percebeu que estávamos absolutamente despreparados
para atuar face àquela realidade, e entendeu a necessidade de
capacitar o Partido para novas formas de luta e como essa preparação deveria ser programada. Definiu-se naquela época que o passo
inicial era instruirmos os militantes para a organização da auto296
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