1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 286
que ele planejara: guerras de independência africanas com intervenção direta de Moscou. Fidel Castro confidenciaria a alguns dirigentes comunistas mais sintonizados com ele que a parceria
cubano-soviética na África era uma vitória póstuma de Cuba.
O coroamento desse projeto foi sua eleição para presidente da
Conferência dos Não Alinhados, em 1979.
O pequeno núcleo da ALN em Havana, engrossado com os
recém-vindos fugidos do Chile, admitiu, no início de 1974, haver
chegado o momento do balanço. Essa exumação não se furtaria a
tocar em um tabu que sempre obstruiu a autocrítica: a dissecação
do papel de Marighella. Com cerca de vinte militantes, divididos
em duas casas, dez meses debatendo, sem sair à rua, os mantimentos para as casas eram levados pelos cubanos encarregados da
assistência aos guerrilheiros refugiados em Cuba. Clara Charf direcionava os trabalhos ostensivamente para que Marighella fosse
retratado como um dirigente imune a claudicações e equívocos.
Quanto a ela, o máximo era sua autocrítica em relação ao Molipo,
admitindo finalmente que se equivocara ao estimular o fracionismo dos estudantes paulistas. Nenhuma palavra quanto ao
morticínio. Sua obsessão pelo legado de Marighella era esquizofrênica. No debate lúgubre que qualquer derrota suscita, os mortos
instavam uma reparaç