1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 279
A fim de estimular esse processo autocrítico, damos conhecimento
ao Partido das principais conclusões a que pôde até agora chegar o
CC, na análise que fez dos acontecimentos relacionados com a vitória
do golpe de 1º de abril, a respeito das falhas e erros da atividade dos
comunistas. A vitória do golpe militar pôs a descoberto muitas de
nossas mais sérias debilidades. Fomos colhidos de surpresa pelo
desfecho dos acontecimentos e despreparados não apenas para
enfrentá-los, como também para prosseguir com segurança e eficiência em nossa atividade nas novas condições criadas no País. Revelou-se falsa a confiança depositada no “dispositivo militar” de
Goulart. Também falsa era a perspectiva, que então apresentávamos ao Partido e às massas, de uma vitória fácil e imediata. Nossas
ilusões de classe, nosso reboquismo em relação ao setor da burguesia nacional que estava no Poder, tornaram-se evidentes. Cabe-nos
analisar o processo que nos levou à semelhante situação.
(...) nossa atividade em relação ao governo de Goulart era orientada, na prática, como se sua política fosse quase inteiramente
negativa. Desprezávamos seus aspectos positivos de grande importância (...). Nossa oposição ao governo adquiria o sentido de luta
contra um governo entreguista, com o objetivo principal de
desmascará-lo perante as massas.
(...) na raiz de nossos erros está uma falsa concepção, de fundo
pequeno-burguês e golpista, da revolução brasileira, a qual se tem
manifestado de maneira predominante nos momentos decisivos de
nossa atividade revolucionária, independentemente da linha política, acertada ou não, que tenhamos adotado. É uma concepção
que admite a revolução não como um fenômeno de massas, mas
como resultado da ação das cúpulas ou, no melhor dos casos, do
Partido. Ela imprime à nossa atividade um sentido imediatista, de
pressa pequeno-burguesa, desviando-nos da perspectiva de uma
luta persistente e continuada pelos nossos objetivos táticos e estra-
tégicos, através do processo de acumulação de forças e da conquista
da hegemonia pelo proletariado.36
36 CARONE, Edgard. O P.C.B. (1964-1982). São Paulo: Difel, 1982.
Derrota anunciada: Luta armada e o PCB (1967-1973)
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