1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 272
a partir daqui citada como Declaração, uma viragem nas concepções do PCB não só sobre o Brasil, mas sobre as questões mundiais.
Não se teria a Declaração sem o processo de desestalinização.
Para Anita:
A crise deflagrada no PCB pelo XX Congresso levou à formação de
dois grupos principais: 1) Os chamados “renovadores”, liderados
por Agildo Barata – conhecido dirigente do Comitê Central do
Partido, que acabaria sendo expulso de suas fileiras -, os quais, em
grande parte, abandonaram a organização partidária. 2) A maioria
dos membros da direção, que se rearticulou em torno da liderança
de Prestes, reorganizou o Partido e conseguiu garantir sua sobrevivência enquanto organização. Havia um terceiro grupo, muito
reduzido, defensor da tática “esquerdista” anteriormente adotada,
que, politicamente isolado, seria afastado do Comitê Central e
posteriormente romperia com o PCB, dando origem ao PCdoB.33
A Declaração sempre teve um limite frágil na política do PCB
e foi sepultada definitivamente na ruptura com o marxismo-leninismo e o modelo soviético, quando da fundação do PPS – Partido
Popular Socialista – em 26 de janeiro de 1992, em São Paulo.
Abolido o instrumental teórico do caminho democrático e nacional
que, por décadas, determinara as alianças do PCB com setores da
burguesia e tornara subalterno o papel do proletariado, esse documento teve o mérito de ressaltar o caráter capitalista da gênese
social brasileira e de ousar, sem sucesso, oxigenar a cultura do
PCB. Foi a versão brasileira da concordância coagida, imposta, da
desestalinização interna do PCB.34 Esse é o momento mais nacionalista do PCB em toda a sua trajetória, mesmo que outros grupos
de esquerda no Brasil só tenham descoberto isso na década de
1980. Partido nacional-libertador, propugnava a revolução brasi-
33 Sobre os 50 Anos da “Declaração de Março de 1958” do PCB, Anita Leocádia Prestes,
s/d.
34 Marco Antônio Coelho: A denúncia do culto à personalidade deixa o PCB sem norte
e rumo. Uma reformulação violenta do partido era necessária. Prestes assume a responsabilidade por ela por aqui, mas elege como bodes expiatórios João Amazonas,
Pedro Pomar, Mauricio Grabois, Arruda Câmara (Entrevista gravada em 7/03/1991).
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