1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 261
formação para ganhar tempo e reverter o dano. E via Rádio Havana,
que o entrevistou em seu quarto no Hotel Habana Libre, desmentiu
a notícia, afirmando que fora plantada pela polícia brasileira. Frisou
que a adesão do PCB ao projeto revolucionário era irretorquível,
feito o diagnóstico do que efetivamente sucedera em 1964. E a deflagração da luta armada pelos comunistas do PCB também incorporaria outros setores da esquerda. E desmentia, taxativo, que fosse
fracionista ou estivesse formando um novo partido ou uma nova
organização dos comunistas no Brasil. Como dirigente comunista se
engajara na Olas em prol da unidade de todos os comunistas e revolucionários brasileiros.
Sem o PCB, seu projeto era um fracasso anunciado. É que
disporiam ele e o comando cubano apenas de estudantes comunistas, alguns militares de baixa patente, nacionalistas, provenientes
do brizolismo e alguns poucos também militantes do PCB. Refiro-me a tão somente umas poucas dezenas de pessoas.
Criou-se uma lenda sobre a ida de Marighella para a conferência da Olas, seu rompimento com o PCB: quando deixou o país
para participar do encontro já tomara a decisão de deflagrar a luta
armada sem o PCB. Nunca quis deixar o Partidão, pois sabia que
seu projeto sem ele não teria pernas e braços, e perder os seus
vínculos com ele era o maior dos seus pesadelos. Numa entrevista
para a Rádio Havana Livre, é visível o empenho de Marighella em
credenciar-se como dirigente comunista, membro do CC, membro
da Comissão Executiva da maior organização partidária estadual,
a de São Paulo. E negou, veementemente, ser fracionista, e de
encontrar-se fora do partido. Em vão, Prestes cortara-lhe pernas e
asas, deixando-lhe imóvel e repudiado em Havana. E assim ficaria
quando voltou. A dissidência original se dividira em micro facções
pelo país inteiro.
E tudo veio abaixo com a expulsão. Ele perdeu o cargo, a
infraestrutura, a legitimidade partidária. Tornou-se um revolucionário avulso, sem cargo, sem partido, sem base social, sem quadros.
Todos os planos feitos aqui e em Havana partiram do pressuposto
político (e numérico) que se cooptaria a base do PCB. As guinadas
Derrota anunciada: Luta armada e o PCB (1967-1973)
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