1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 24

Ressalte-se ainda que sequestros a diplomatas, assaltos a bancos e focos de combate, urbanos e rurais, promovidos pelos guerrilheiros brasileiros acabaram também por contribuir para a estruturação de um aparato repressivo policial-militar cuja missão era exterminar lideranças políticas da oposição, tanto aquelas que atuavam na luta armada, como os dirigentes do PCB e outros democratas. É que a ditadura estava em um momento de crescimento da economia (o propagandístico “milagre brasileiro” e o enganador “Brasil, ame-o ou deixe-o”), o que lhe permitia manter total censura e a repressão física mais dura que tivemos. Grande parte da esquerda não entendeu nossa postura. Achava que era porque o PCB não queria participar de política de confronto, quando na verdade tínhamos clareza e sobretudo certeza de que o importante naquele período era arregimentar forças as mais amplas e diversas e articulá-las. Não foi outro o objetivo da construção da Frente Ampla, juntando adversários históricos na tentativa de isolar e assim derrotar a ditadura. Quando se esgotou o ciclo de radicalização, de confronto, de algumas escaramuças militares, de guerrilha urbana, muito pequenas mas que exacerbaram os setores mais à direita do regime, mais fascistas, e que provocaram inclusive a repressão contra todos; depois que se encerrou esse período, inclusive o fim da tentativa de implantar um foco rural na Guerrilha do Araguaia, a única forma de continuar a funcionar esse mecanismo de repressão era em cima do Partido Comunista, que estava fortalecido dentro da frente democrática que era o MDB. Houve um momento em que o PCB percebeu que o processo em marcha para isolar e derrotar a ditadura era irreversível. O governo Geisel começou a ter problemas gravíssimos na sua condução econômica. A primeira crise do petróleo abalou o modelo que aqui se vinha adotando – o de financiamento fácil internacional das grandes obras , dos grandes investimentos, do Brasil potência. Mostrou que tínhamos um certo pé de barro. E a crise que se instalou revelava a dificuldade do governo de manter a sua base de sustentação. Seu primeiro grande momento ocorreu, particular22 1964 – As armas da política e a ilusão armada