1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 219
Então, o Partido tinha clareza em relação à natureza das frentes políticas. Com a Frente Ampla não seria muito diferente. Não
por acaso, ela surgiu depois do adiamento das eleições de 1965. Cada
liderança civil daquele então – Ademar, JK, Lacerda, Magalhães
Pinto – queria disputar as eleições presidenciais. E, para isso, era
fundamental recuperar o quadro democrático. Contudo, o poder
militar – ainda que não tão repressivo como se tornaria logo em
seguida –, ao pressentir que perderia as eleições, adiou-as. E depois
outorgou a Constituição de 1967, que aplicava um projeto saído dos
marcos da Escola Superior de Guerra. Mesmo assim, eu ainda tenho
a convicção de que as ações armadas de parcelas das esquerdas
forneceram o pretexto que a extrema-direita estava precisando para
levar o país para uma situação de ditadura total.
Eu li num dos trabalhos do Elio Gaspari sobre o período da
ditadura, que uma das pessoas que participaram da guerrilha de
Caparaó – não sei dizer se ela era civil ou militar – disse não ter sido
torturada depois de presa. Ainda não havia um clima de generalização ou institucionalização da tortura. Eu me lembro de 1935. Os
comunistas que foram presos, esses eram torturados, espancados
para dizer o que sabiam. Mas o pessoal militar, não. Quer dizer, eles
consideraram que o levante era só militar mesmo e nosso, no sentido
de envolver apenas brasileiros. Só depois que eles pegaram o Harry
Berger e outros estrangeiros e puderam verificar as ligações internacionais do movimento é que eles apertaram a repressão no Brasil.
Ou seja, o governo introduziu o estado de guerra interna.
De certa forma, logo após o Golpe de 64 não havia uma
repressão no sentido de esmagar todo e qualquer opositor. Essa
repressão surgiu quando começaram os atentados contra os militares. Porque o que havia eram atentados, é preciso que se reconheça isso, não eram tentativas de agitar as massas. E havia dúvidas, inclusive, se aquele atentado no Aeroporto de Guararapes, por
exemplo, foi obra da esquerda radical. Poderia ter sido uma provocação. Mas o fato é que essas ações empurraram a massa dos milicos para o apoio ao Golpe.
As divisões internas
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