1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 217
seio da massa, pois se tratava de uma ocupação estrangeira. A situação aqui era muito diferente. Ele fizera uma transposição absolutamente mecânica de uma realidade para outra.
Aliás, essa era uma postura comum entre nós. Eu me recordo
que logo após o Estado Novo, com aquela repressão toda que se
desencadeou contra o PCB, um companheiro que era cabo (ele
depois estudou, tornando-se advogado), saiu-se com essa: “Agora,
companheiros, nós vamos ter de esperar 12 anos para que isso se
resolva...” O que esse companheiro, hoje já falecido, estava fazendo
era simplesmente um paralelo entre a realidade brasileira dos anos
30 e a situação na Rússia, em 1905. Segundo ele, 12 anos depois os
bolcheviques tomaram o poder na Rússia, valendo-se de uma
segunda crise revolucionária... Aqui seria igual! Mas não vou negar
que eu também fazia as minhas transposições, todos fazíamos!
Eu lamentei muito a saída do Marighella do Partido. Era
muito bom estar com ele, mesmo que fosse para divergir dele.
Outro companheiro de quem eu me recordo nessa época é o Mário
Alves. Isso porque, numa discussão do Comitê Central, preparatória para a elaboração do documento do VI Congresso, ele apresentou um texto até muito bem feito. Esse texto já devia expressar a
opinião daqueles companheiros que estavam se organizando em
função da opção armada. Eu me lembro que conversei bastante
com o Mário sobre aquele texto – e eu insisto nisso – muito bem
elaborado. Só que a forma desse documento superava o seu conteúdo. Ou seja, a sua argumentação era lógica – só que a sua premissa
era equivocada. Mário Alves era um bom companheiro, que
ajudava muito nas articulações partidárias. Fez falta para nós.
Companheiro excelente também era o Joaquim Câmara
Ferreira. Nesse mesmo período das discussões nos Comitês municipal e estadual de São Paulo, houve uma reunião com os companheiros de Cubatão, da chamada Raiz da Serra, à qual compareci
acompanhado do próprio Câmara (quem guiava o carro inclusive
era eu). Nós chegamos à reunião perfeitamente amistosos, o
pessoal nosso do Municipal de Cubatão deve até ter se surpreendido de eu mesmo levar o Câmara até lá. Esse comportamento
As divisões internas
215