1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 203

cularidade do “caso” brasileiro explica as formas do relacionamento que balizariam as relações entre o Estado e uma frágil classe operária (lembrando aqui o nosso recente passado escravista), bem como as posteriores tensões sociais no campo. O projeto implantado após 30 ficou conhecido como “modelo nacional-desenvolvimentista”. O crescimento econômico, fato sempre esquecido pelos inimigos de direita e de esquerda do trabalhismo, foi espantoso: segundo dados internacionais, o Brasil foi o país capitalista que mais cresceu no século XX. No pré-64, contudo, a crise desse modelo e a luta para reformá-lo trouxe um acirramento das contradições sociais e uma mobilização social nunca antes vista. Segundo Jacob Gorender, tratou-se do “maior movimento de massas da história nacional”.6 As lições de 64 O conjunto das forças sociais que apoiava Goulart foi derrotado sem esboçar nenhuma reação significativa. Perante essa derrota acachapante, a esquerda embrenhou-se numa disputa teórica sobre os erros políticos cometidos no pré-64. A discussão sobre o significado do golpe gerou duas conclusões opostas que passaram, doravante, a orientar a oposição ao regime militar. De um lado, alinharam-se aqueles que afirmavam a inviabilidade da política de alianças praticada naquele período, devido a uma radicalização que não avaliou corretamente a correlação de forças. O acirramento dos conflitos sociais (greves gerais, invasões de terra, revolta dos sargentos etc.) fez com que setores da classe média retirassem o seu apoio ao governo, promovendo as Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Isolado e enfraquecido, o governo caiu sem oferecer resistência. A conclusão tirada acenava para uma nova política de alianças para isolar e derrotar a ditadura. Inicialmente, tentou-se articular uma “frente ampla” com 6 GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: Ática, 1987, p. 250. Meio século depois 201