1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 153
ficado permanentemente conforme variáveis ideológicas e institucionais. O que se busca, sinteticamente, utilizando-se da comparação é iluminar um objeto de estudo frente a outro procurando
estabelecer analogias, semelhanças e diferenças entre duas (ou
mais) realidades (D´ASSUNÇÃO BARROS, 2007). Pela comparação, pode ser possível observar dois objetos ou realidades dinâmicas em transformação e verificar como os elementos identificados
através da comparação vão, por um lado, variando em alguma
direção mais específica e, por outro, insinuando um conjunto referente, construído quer pela investigação quer pelo pensamento.
Assim, no caso especifico, a análise comparativa possibilita então o
aprofundamento e ao mesmo tempo alimentação do que chamamos construto simbólico. Vale mencionar que, cada vez mais, a
análise comparativa vem ganhando espaço importante na pesquisa
e nos estudos históricos latino-americanos feitos no Brasil. Mesmo
que ela não seja utilizada de maneira explícita nas recentes pesquisas que se desenvolvem no país, ela está presente, iluminando o
entendimento e a reflexão que se faz dos processos políticos que
demarcam a contemporaneidade das sociedades latino-americanas. Ao estudar um objeto especifico da história latino-americana,
o artifício da comparação permite que se agregue valor ao exercício
de produção historiográfica, uma vez que o nosso objetivo – como
estudiosos da América Latina – é contribuir para a explicação da
construção dessas sociedades, de suas contradições, seus pioneirismos desafiadores, seu paradoxos, seus impasses e seus limites.
O segundo enfoque vincula-se ao potencial interpretativo e
explicativo da história política. Esta é uma dimensão da historiografia que reemergiu de maneira inovadora nas últimas décadas e
que se firmou em sua especificidade, no bojo das transformações
da historiografia enquanto campo do conhecimento. Entretanto, a
história política tem, muitas vezes, se tornado um terreno subsidiário da história cultural. Conforme afirmou Serge Berstein, “hoje
os historiadores fazem história cultural”. Desta maneira, o campo
da política foi fixado como um dos territórios da história cultural.
Estuda-se mais as relações e práticas de poder entendidas como
objetos isolados, como fenômenos do social, do que as complexas,
Golpe de Estado, regime autoritário e transição democrática
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