1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 124
cráticas que internamente exigiam eleições livres, liberdade de
organização partidária e anistia aos presos políticos, a ditadura
Vargas desmorona, quando no dia 29 de outubro de 1945, o tenente
de 30, general Ernesto Geisel, comanda a tropa que cerca o Palácio
do Catete, no Rio de Janeiro, para derrubar o ditador. O PCB
também foi atacado; a sede nacional do Partido é invadida e depredada por forças policiais.
A partir de então, o “estamento militar” apresenta claramente uma cisão: uma corrente que se consolidou durante a era
Vargas, propensa à acomodação com grupos oligárquicos e o status
quo, e uma outra corrente que mantém os “ideais” da matriz
forjada no velho 15 de novembro. Essa cisão torna-se explícita
quando o grupo ligado a Vargas lança a candidatura do general
Eurico Gaspar Dutra, representando o establishment, e a outra
corrente lança o ex-tenente do levante do Forte de Copacabana,
brigadeiro Eduardo Gomes, pela União Democrática Nacional.
Dutra se elegeu com folga. Com a derrota do brigadeiro,
voltaram os militares mais identificados politicamente com a UDN
a apostar em golpe, o fantasma que vai rondar todo o processo
político brasileiro e assombrar o frágil regime democrático-constitucional de 1946, quando, já em 1947, é violentado pelo governo
Dutra, com a cassação do registro eleitoral do PCB, intervenção em
sindicatos, cassação de mandatos parlamentares, repressão aos
movimentos sociais, sucessivas prisões e até assassinatos de manifestantes nas ruas. E mais, com o desencadeamento da Guerra Fria
em escala global, a histeria anticomunista ganha força e o confronto
entre os dois entes políticos que pregam dois tipos de revoluções
diferentes tende a se aprofundar até o desfecho de 1964.
Mesmo tendo feito um governo medíocre, do ponto de vista
interno e externamente de vassalagem à política de Guerra Fria dos
Estados Unidos, Dutra tenta eleger seu sucessor, contando com a
oposição de Vargas, que volta ao cenário político depois de um longo
recolhimento. Contra ele, volta a concorrer o brigadeiro Eduardo
Gomes, nas eleições presidenciais de 1950, em nova tentativa dos
herdeiros dos ideais do velho 15 de novembro, de chegar ao Poder
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