1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 121
Além dessa proposição em um Brasil cuja taxa de alfabetização não passava de 18% da população, os adeptos do “positivismo”
tinham como bandeira a “ordem”, a disciplina, daí a aversão à
participação do povo em um movimento “revolucionário” de uma
elite militar de vocação autoritária. De modo que, além dos fatores já citados, precário apoio político e inexperiência de governança, somava-se a ausência de apoio popular àquela sonhada
“revolução” do final do século XIX, apoio este que nunca foi desejado ou pleiteado.
Sendo assim, o curto período de governo, em cuja frente
estiveram os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto,
não foi suficiente para levar a cabo o difuso projeto de país concebido pelos militares republicanos. Porém, foi suficiente para
consolidar o novo regime, institucionalizá-lo com uma Assembleia
Constituinte e aprovação de uma Carta constitucional considerada, na época, como liberal.
Em seguida, vêm os governos civis oriundos da província de
São Paulo que se tornara Estado, onde imperava o baronato do café,
e onde já pontificava um surto de industrialização com mão de obra
assalariada, fundamentalmente constituída de imigrantes europeus.
Percebe-se que, embora tenha fracassado o projeto dos militares, o
Brasil já não era mais o mesmo. Mudanças fundamentais nas relações de trabalho e na economia estavam em andamento.
E, as contradições que já vinham de longe, desde os tempos do
Brasil imperial, vão se aprofundando pela falta de correspondência
de uma base econômica e social que se modernizava e se modificava,
frente a uma estrutura arcaica de poder sem nenhuma legitimidade,
que se baseava na onipresença de um partido que manipulava e
fraudava as eleições sistematicamente, ocupando todos os cargos
públicos, quer seja do Executivo, quer seja do Legislativo.
Essa contradição precisava ser superada. Então, os militares
procuraram incluir em seu programa, além das demandas antigas,
a necessidade de realizar eleições limpas, ampliar o universo de
eleitores, respeitar a pluralidade partidária, reconhecer a legitimiO golpe de abril e o 15 de novembro
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