1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 120
O GOLPE DE ABRIL E O 15 DE NOVEMBRO
Moacir Longo1
O
golpe de 1964 foi a sonhada “revolução com ordem e
progresso” dos militares que deram o golpe republicano
de 15 de novembro de 1889. Perderam naquela ocasião,
quando tiveram que entregar a liderança e a hegemonia do processo
de transição do regime monárquico para o regime republicano por
falta de maior apoio político e de experiência de governança. Tiveram que chamar os conselheiros do Império e os bacharéis ligados aos barões do café para organizar o governo e administrar o
país. E mais, tiveram que aceitar os quadros das velhas oligarquias
que aderiram ao novo regime, preocupados em manter privilégios
historicamente conquistados como classe dominante. Perderam
naquela ocasião, mas não desistiram da ideia ao longo do tempo.
As razões para tal desfecho foram várias. Uma análise mais
profunda demandaria um estudo específico e abrangente, o que
não é o caso aqui neste espaço. Mas, diria de maneira resumida
que, na ocasião, os militares não tinham um projeto consistente de
construção do país. Não bastava um vago programa de incentivo à
educação, para criar as bases do desenvolvimento técnico-científico, conforme pregação do pensador francês Auguste Comte, o
papa do “positivismo”, que havia conquistado os corações e as
mentes de amplos setores da oficialidade do Exército.
1
Jornalista, ex-vereador da Câmara Municipal de São Paulo, cassado em 1964, militante e dirigente histórico do Partido Comunista Brasileiro (hoje no PPS), autor de
Brasil – Os descaminhos do país das terras achadas. Brasilia: Fundação Astrojildo
Pereira, 2008.
118