1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 115

destas constatações é que a intenção que se tem determina o tipo de passado que será reinventado. 1964 começou em 1930 e tem raízes ainda mais distantes “Temos tido – todos nós que hoje palmilhamos o caminho da revolução – um mesmo ponto de partida: a descrença nos processos legais para a solução da crise que asfixia a nacionalidade” (TÁVORA, Juarez. Memórias: uma vida e muitas lutas, Liv. José Olímpio, 1973, p. 344.). Esta frase de Juarez Távora está contida em um manifesto lançado por ele no dia 31 de maio de 1930, em resposta a um outro publicado naquele mesmo mês por Luíz Carlos Prestes. Os dois manifestos assinalam a encruzilhada que separaria dali para a frente os caminhos políticos desses dois companheiros de armas e de ideais, que haviam criado laços profundos de amizade e mútua admiração nas longas jornadas da Coluna Invicta. Mas os dois documentos reafirmam também um ponto comum: a descrença na eficácia dos processos democráticos para realizar as mudanças ali propostas, pois o manifesto de Prestes não era menos enfático do que o de Juarez na negação da viabilidade dos meios legais para mudar a situação política do país. Evidentemente, Juarez Távora e Luiz Carlos Prestes não foram os primeiros nem os últimos a descrerem nos processos legais para a realização de mudanças no Brasil; as inúmeras tentativas de transformar o Estado centralizador do poder político e concentrador da economia por meio de insurreições, que vêm desde o período colonial, historiam a gênese e a trajetória desta descrença. Mas o momento em que estes dois personagens tornam públicas suas divergências sobre as mudanças que propõem para o país e se postam em campos opostos para efetivá-las (dando início aos choques entre forças que, influenciadas direta ou indiretamente pelas ideias de seus manifestos, tiveram grande influência na trajetória do país ao longo do próximo meio século) não é Lições de 1964 e antes 113