O equilíbrio estratégico-militar
A Revolução Russa de 1917 foi a maior tentativa já feita de supe-
ração do capitalismo, depois da brevíssima Comuna de Paris, de
1871, que inspirou Lenin. Na verdade, tomou o rumo dado pelos
bolcheviques em consequência da Primeira Guerra Mundial, que
interrompeu a primeira experiência de governo socialdemocrata do
mundo, na Alemanha. A II Internacional, que reunia, num só movi-
mento, os principais líderes operários e a intelectualidade marxista
do começo do século passado, implodiu.
A social-democracia alemã, ao aprovar os créditos de guerra,
“traiu” o restante do movimento socialista. O Partido Trabalhista
britânico, obviamente, engajou-se no esforço de guerra da Ingla-
terra. Na França, Jaurès, o grande líder socialista que lutava pela
manutenção da paz, fora assassinado. Lenin, então, opôs-se feroz-
mente à participação da Rússia na guerra, A velha consigna bolche-
vique lançada por ocasião da Guerra da Crimeia estava mais válida
do que nunca: “Pão, paz e terra!”.
Foi nessa esquina da História que o chamado “socialismo real”
se impôs como alternativa para a construção de uma nova socie-
dade, em contraposição à experiência fascista em diversos países,
cuja ascensão começou com a chegada de Mussolini ao poder na
Itália. Depois da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial,
a expansão comunista veio no rastro dos tanques soviéticos. O
“socialismo real” no Leste Europeu funcionou como uma via de
industrialização tardia. Só não se contava com o sucesso do Plano
Marshall, que possibilitou a retomada da experiência socialdemo-
crata na Europa Ocidental, com seu Estado de Bem-estar Social, e
com a guerra fria, que submeteu a economia soviética a um esforço
permanente de guerra com a chamada “corrida armamentista”.
Na doutrina comunista, o equilíbrio estratégico militar entre a
URSS e os EUA era a chave do avanço revolucionário no resto do
mundo. Permitiria neutralizar o imperialismo ianque e avançar
nas lutas de libertação nacional, como aconteceu na China, em
Cuba e no Vietnã. Do ponto de vista do Ocidente, a visão não era
muito diferente, apenas tinha sinal trocado. No histórico encontro
de julho de 1945, em Potsdam, nos arredores de Berlim, Josef
Stálin, Harry Truman e Winston Churchill, respectivos líderes da
URSS, dos EUA e da Inglaterra, traçaram o destino do mundo –
especialmente a partilha da Alemanha, que havia se rendido em
maio, e o desfecho da guerra contra os japoneses, que ainda não
haviam se rendido.
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Luiz Carlos Azedo