100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 90

Eles julgaram a seu modo E se acumpliciaram nesse trabalho. Dentro em pouco, seu poder parecerá que nunca existiu. Poderiam ter permanecidos justos e puros mas abusaram do poder e o mundo por seu turno os oprimiu assim como a adversidade e a provação. Ei-los vivendo na miséria. Seu presente É tão somente o fruto do seu passado. Quem pensará em censurar o mundo Por os ter tratado assim. A poesia foi um raio na minha cabeça, parecia que o avião ia cair: Somos nós, os comunistas, pensei. Eu voltava atordoado pelo que vira e ouvira em Moscou e Leningrado (hoje novamente chamada pelo seu nome de batismo, São Petersburgo). Era o mês de maio de 1990, Mikhail Gorbachëv ainda gozava de enorme prestígio mundial, mas a União Soviética já estava se desman- chando. A viagem fora um choque terrível, que eu ainda não conseguia digerir. Sentia-me o próprio homem das cavernas da fábula de Platão, quando estava cego pela luz e não sabia se voltava para a escuridão, onde já não enxergava mais, ou perma- neceria definitivamente à superfície. A vaia na Praça Vermelha Havia viajado para uma reunião de representantes dos jornais comunistas de todo o mundo, em Moscou, no auge da perestroika. A Voz da Unidade havia sido convidada, apesar de ser um pequeno semanário, insignificante até, diante do L'Hu- manité, do PCF, fundado por Jean Jaurès, o líder socialista fran- cês assassinado ao tentar evitar a Primeira Guerra Mundial, ou o l’Unità, fundado por Antônio Gramsci, do PCI, que morreu nas masmorras do fascismo italiano de Mussolini. Modesto ainda mais diante do poderio do Pravda, cujo novo diretor, Ivan Frolov, era a estrela do encontro. Ele havia substituído Victor Afanasiev, que comandou o jornal de 1976 a 1989, quando entrou em rota de colisão com Gorbachëv. Havia uma esquizofrenia no cerimonial do evento, que seguia a hierarquia do partido para o tratamento dado aos convidados. Como eu era membro da Comissão Executiva e do Secretariado do 88 Luiz Carlos Azedo